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O acendedor de lampiões

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

15 Octobre 2020 , Rédigé par Jorge Brites Publié dans #Europa, #Identidade, #Género

Estávamos naquela altura, no final de 2019, nos aproximando de Natal, em La Base, um espaço aberto à iniciativas cidadãs em favor da ecologia e da justiça social, perto da praça da República, em Paris. No contexto de inverno, o céu já ficava escuro logo no final da tarde. Pessoas entram e saiam da sala continuamente. No palco, um pai Natal distribui presentes logo abertos por crianças com olhos cheios de curiosidade. Um barulho geral domina as bancas de criação de jóias, de hena, de roupas ou de bolos. E de repente, as crianças correm, vestidos em bombeiros, mostrando os seus presentes a toda a gente. Três cômicos, Lenny M’Bunga, Zaef Maiga e Charly Nyobe, sobem no palco para uma hora de stand-up.

Foi assim o dia das oficinas de Natal e de lanche solidário organizado em 15 de Dezembro de 2019 por Azmari, uma associação que trabalha desde 2016 sobre a inserção social das mulheres migrantes e das suas crianças. Aulas de francês gratuitas, oficinas de expressão oral, visitas culturais... Com ações concretas e regulares, essa associação trabalha para dar ferramentas a mulheres imigrantes na capacidade de expressão e criando laço. Uma resposta ousada aos muitos problemas a sua integração, que ultrapassam amplamente o único plano jurídico ou econômico.

Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.
Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.

Oficinas de Natal e lanche solidário organizados pela associação Azmari, em 15 de Dezembro de 2019 em La Base, em Paris.

Convém antes de tudo lembrar a situação, em França, das mulheres migrantes, milhares de mulheres que cumulam as dificuldades. Os desafios da integração são muitos, e acrescentam-se às vezes a percursos difíceis e exigentes: educação das crianças num contexto cultural muitas vezes novo, processos administrativos pesados e que tornam-se às vezes ainda mais complicados pela barreira da língua, marginalização ligada à origem, ao sexo, à cor da pele, a praticas religiosas e culturais, ou ainda ao simples estatuto de migrantes... Julie Drame, membro da associação que encontramos às oficinas de Natal, nos explica como essa situação motivou a sua escolha de envolver-se com Azmari: « Inicialmente, eu procurava uma associação em relação com as mulheres. Migrantes, ainda melhor, porque elas sofrem muitas opressões. Lá, são mulheres, migrantes, muitas vezes de uma classe social baixa e racializada. São muitas vezes mulheres que sofrem diversas opressões, e eu acho que são as pessoas que mais precisam que lhes ajudamos. »

Rosy Vassallo, outra membro da associação, que encontramos em 24 de Novembro na ocasião de um encontro literário organizado por Azmari, já descrevia esta situação particularmente complexa: « Há várias problemáticas. Problemas económicos, para pessoas que não podem pagar-se aulas de francês – e as aulas de francês, custa muito. Um professor custa-te no mínimo 30 euros por hora. Para pessoas que também não podem pagar-se uma guarda de crianças durante a atividade. »

De fato, as migrantes são muitas vezes ausentes dos discursos e das representações coletivas sobre a migração, enquanto elas constituem uma parte notável no fenômeno migratório: em 2017 por exemplo, elas representavam 35% dos requerentes do asílio e 40,5% das pessoas seguidas pelo Office français de protection des réfugiés et apatrides. Temos que acrescentar a isso centenas de milhares de mulheres que vieram em França por canais muito diversos: o reagrupamento familiar, os estudos, um emprego, etc. Os perfiles dessas mulheres variam muito, mas aparece no entanto que muitas delas não foram escolarizadas no país de origem, o que complica a pesquisa de emprego em França e a compreensão dos processos administrativos e jurídicos (e portanto o acesso aos direitos e a diversos serviços públicos).

Além disso, as mulheres migrantes encontram-se vezes demais, após processos de reagrupamentos familiares ou viagens difíceis, colocadas numa sociedade francesa que elas mal conhecem, expostas a violências e bloqueadas entre as pressões da sua família e da sociedade de origem, por parte, e os estereótipos e as discriminações da sociedade francesa por outra parte. É mais ou menos o que diz um relatório da associação France Terre d’Asile publicado em 2 de Maio de 2018, que mostrou as dificuldades encontradas por essas mulheres, uma vez que elas chegam no território francês, em particular as violências domésticas, explicando que as mulheres migrantes são « sobre-expostas a situações de violência dadas as condições de acolhimento muitas vezes inadequadas ou precárias, as suas condições de precariedade administrativa e económica [...] mas também as dificuldades de adaptação ao país de refúgio ».

Em França, os textos legislativos e regulamentos sobre a entrada e a residência das pessoas estrangeiras não estabelecem distinção entre homens e mulheres – apesar das potenciais diferenças induzidas nas realidades sociais, econômicas, familiares, culturais. Um exemplo basta a o ilustrar: o caso do reagrupamento familiar, no âmbito do qual as mulheres que vieram juntar-se ao seu marido dependem desses mesmos para alcançar uma regularização sustentável do seu estatuto, e encontram-se portanto numa situação complicada (perto da chantagem) quando surgem violências domésticas.

Por outro lado, as crianças migrantes constituem também um grupo particularmente vulnerável, pois elas sofrem diretamente das situações de precariedade, de pobreza, de discriminação que conhecem os seus pais. Podemos mencionar o exemplo das deficiências ao nível da habitação, particularmente fortes nas populações migrantes. Em 20 de Novembro de 2019, um coletivo de doze organizações (incluindo a Fundação Abbé Pierre, UNICEF e o Samu Social) assinava um manifesto que alertava o Estado francês sobre a realidade de 700 crianças dormindo cada noite nas ruas de Paris; e pelo menos 160 em Seine-Saint-Denis (arredores da capital). E na região Île-de-France (Paris e periferias), 20 000 crianças estavam no hotel, em condições de precariedade extrema. No total, em 2018, treze menores falecerem na rua em França, segundo o coletivo Les Morts de la Rue – uma estatística que deve ser similar em 2019. Ainda em 4 de Novembro de 2019 em Paris, uma mulher que pede asílio perdeu um dos seus bebês enquanto o parte tinha apenas acontecido em urgência. Segundo o mesmo coletivo, em 2018, quatro vítimas sobre dez eram de nacionalidade francesa. Essa situação de precariedade, e mais amplamente os desafios da integração, complicam, claro, a escolarização das crianças, a sua educação e o seu desenvolvimento físico e psicológico.

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

Esta associação permite às mulheres migrantes de beneficiar de aulas, e em paralele de uma guarda das suas crianças. Um dos motivos pelos quais as mulheres vêm em França, é que elas têm crianças que querem abrigar, muitas vezes. E não propor nada às crianças em paralele das oficinas para as crianças, é lhes impedir de fazer a atividade. Portanto o interesse da associação, é propor em paralele atividades para as mulheres e as crianças.
Precisamos de voluntárias que sejam força de proposta. Em assuntos em particular, por exemplo se há quem sabe de viola, teatro, improvisação, foto, etc., é bemvindo.

Céline Toni, 28 anos, em carga da guarda de crianças, dos eventos e do editorial na associação.

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

Azmari, é uma associação de mulheres jovens (em maioria) que são motivadas e que querem mudar as coisas, pelo menos para as mulheres que acompanhamos. Como voluntária, você vê concretamente os efeitos do teu voluntariado, no dia a dia. E você faz parte de um coletivo com um ambiente louco, você tece relações com pessoas que nunca teria encontrado na sua vida.

Julie Drame, 26 anos, em carga dos eventos e das « bavardes d’Azmari » (pares linguísticos).

Uma associação para trabalhar sobre a inserção pela troca e a expressão

Foram situações dessas que motivaram, no final de 2016, as fundadores de Azmari a criar a associação – o nome faz referência à cantora do Bangladesh Azmari Nirjhar. Marine Vicenzutti, em carga da comunicação na associação, nos contava numa entrevista em 24 de Novembro passado em Paris: « A fundadora, Noémie, criou a associação há mais ou menos dois anos e meio ou três anos. Ela encontrou uma mulher que vinha do Bangladesh e que chamava-se precisamente Azmari. O projeto nasceu desse encontro. [...] Esse nome leva portanto o tipo de projeto, de luta contra a exclusão das mulheres de forma geral, e em particular das mulheres migrantes. Noémie começou portanto a criar o projeto, mais com amigas num primeiro tempo para alargar um pouco o círculo. Na associação, há vários perfiles: bastante pessoas que querem estar no meio associativo, e dai isso lhes permite ganhar experiência naquele assunto; e outras um pouco como eu, pessoas ativas que querem ter um projeto que as anima um pouco e que tem sentido, e que lhes dão um pouco do seu tempo para isso. »

Hélène, presidente da associação desde o mês de Julho de 2019, e que encontramos nas oficinas de Natal, descreve Azmari como uma associação trabalhando sobre a « inserção socio-cultural das mulheres e das suas crianças, por aulas de francês, por saídas culturais ». « A ideia, acrescenta ela, é que, pela aprendizagem do francês, pelas atividades culturais, vamos favorecer o laço social e a inserção dessas mulheres e das suas crianças na sociedade francesa ». Para isso, a associação desenvolveu ao longo do tempo atividades diversas para trabalhar sobre a aprendizagem do francês e sobre a expressão individual, graças a oficinas de teatro, de artes plásticos ou de música. A cultura e a linguagem, a expressão e a troca são pensadas como ferramentas contra o isolamento e as barreiras sociais, e como fatores de integração. A ideia é criar espaços de diálogo e de expressão.

Os perfiles das mulheres migrantes que assistem às aulas ou às diferentes atividades são muito diversos. « Originários da América do Sul, do Magrebe, da Ásia, há mulheres de toda origem », nos diz Rosy. Marine acrescenta: « São mulheres migrantes. Não necessariamente há pouco tempo – porque contudo a maioria estão aqui legalmente. Elas podem estar numa situação de urgência, mas por exemplo, do que eu sei, não temos mulheres sem habitação por enquanto. No entanto, podemos ter situações precárias. Agora por exemplo, temos uma mulher que teve o seu terceiro bebê, e foi um pouco "a chamada às doações" em interno, porque ela estava num lugar sem aquecimento, e ela acabava de ter o seu nenê, então era: como conseguimos achar roupas de bebê? Alguém foi comprar um pequeno aquecedor extra. Portanto não necessariamente grandes situações de urgência, mas pronto. Depois, elas estão em França desde mais ou menos tempo. Para algumas, elas estão há dois anos na associação, e agora elas têm um trabalho. Nós, o objetivo é também que elas possem sair disso tudo por cima. »

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

Eu fiz estudos de direito, especializados nas questões migratórias. É algo que sempre interessou-me. E é algo que faz parte de mim, da história da minha família, a qual eu sempre fui sensível. Também estudando a questão na faculdade, e depois decidindo juntar-me a uma associação num ponto de vista muito prático.
O acesso à cultura é um direito fundamental. Pode-se fazer muitas coisas pela cultura, e a aprendizagem da língua passa por ai.

Hélène Viel, 28 anos, presidente da associação Azmari.

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

O que é interessante com Azmari, é que nos envolvemos de forma muito concreta com mulheres migrantes. São aulas de francês, é de tal a tal hora, e vemos os beneficiários da associação progredir em direto, na aula. Estamos em contacto direto com elas e as suas crianças. É também o fazer com uma flexibilidade no planejamento do tempo, sem demasiadas restrições.

Anna Kerebel, 28 anos, em carga dos eventos e da guarda de crianças na associação.

Conferência com Aya Cissoko, à direita. (© Azmari).

Primeiro conjunto de atividades da associação: aulas de francês gratuitas para as mulheres migrantes, dadas à Casa das mulheres, no 12° arrondissement em Paris, cada sábado de manhã entre 10h30 e 12h. Além dessas aulas, a associação propõe oficinas de expressão cada domingo entre 15h e 18h (também à Casa das mulheres), que têm primeiro como objeto praticar o francês oral sobre temáticas diferentes cada vez, na perspetiva de ferramentar as mulheres para enfrentar os desafios e os processos no dia a dia: apresentar-se, gerir uma situação de urgência, marcar um encontro, passar uma entrevista de recrutamento, etc. Mas algumas temáticas ultrapassam também as necessidades só materiais ligadas ao cotidiano; em Outubro passado por exemplo, acontecia uma oficina de expressão oral sobre o desporte e o ioga. Além do idioma, é a criação de laços, a tomada de confiança e a compreensão dos códigos sociais e culturais que permitem a essas mulheres de poder assumir, não só a autonomização, mas por ela uma inserção sucedida na sociedade francesa que as acolhe a bem ou mal. No total, são atualmente umas dez mulheres que beneficiam disso. E elemento essencial da ação Azmari: a associação oferece um serviço de guarda de crianças às mães, o que favorece obviamente o seu acesso às atividades.

Terceiro conjunto de atividades: uma saída cultural ou um espetáculo é proposto de graça às mulheres migrantes, cada primeiro domingo do mês, onde elas podem ser acompanhadas por o namorado/marido, a família ou amigos. Em 1 de Dezembro passado, por exemplo, a visita tinha lugar no Panthéon.

Em paralelo, a associação organiza eventos pontuais. Alguns participam aos objetivos diretos da associação, como foi o caso no dia do 15 de Dezembro durante o qual houve as oficinas de Natal e o lanche solidário de Azmari: criar laço para mulheres migrantes e as suas crianças, dar visibilidade à associação, atrair eventuais voluntários ou doações, etc.

Mas a ação da associação inscreve-se num processo mais global em favor de uma melhoria da condição de mulheres que o percurso de vida pode ter tornadas mais vulneráveis: outros eventos pontuais tentam sensibilizar sobre a imigração, sobre a condição feminina, ou a valorizar percursos originais de mulheres migrantes. Em 20 de Junho de 2019, foi Aya Cissoko, autora e triplo-campeã do mundo de boxe, que foi convidada a falar da sua obra Danbé na qual ela testemunha do seu percurso surpreendente de rapariga oriunda da imigração, durante uma conferência no Ground Control, um espaço localizado no 12° arrondissement de Paris. Em 24 de Novembro de 2019, foi a autora Nassima Terfaya que foi convidada a apresentar o seu livro L'accomplissement – no Café Maya Angelou, ainda no 12° arrondissement de Paris, após uma projeção do testemunho da atriz francesa Adèle Haenel relativo às violências sexuais que ela sofreu (divulgado por um jornal on-line chamado Mediapart). Na véspera, em 23 de Novembro, as membros de Azmari encontravam-se numa marcha nacional contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, que reuniu pelo menos 49 000 pessoas nas ruas de Paris.

A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.
A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.

A associação Azmari numa Marcha contra os feminicídios e as violências contra as mulheres, em Paris em 23 de Novembro de 2019.

Uma outra atividade é proposta às crianças das mulheres migrantes, que consiste a inscrever as crianças em clubes de desporte na Île-de-France, para beneficiar treinamentos cada semana, como nos explica Marine: « Temos uma quarta atividade que é gerida de forma um pouco extra. Chama-se "um drible para todos". A ideia, é pagar inscrições ao clube de desporte para as crianças. » Estamos sempre na perspetiva de criar laço social, como fator de inserção. As crianças, rapazes e raparigas, frequentem outras crianças da mesma idade, praticam o francês, aprendem os valores de solidariedade e de partilha próprios ao desporte, e desenvolvem a auto-estima explorando os seus limites físicos. Além do divertimento!

Uma vontade de alargar e de professionalizar a iniciativa

Além de algumas dificuldades logísticas – bastante incontornáveis para uma associação que quer trabalhar num conjunto tão grande como Paris, como a distância entre o espaço e o domicílio de algumas mulheres –, Azmari, desenvolvendo e atraindo membros voluntários, enfrente um desafio que nos descreve Marine: « Um ponto que vejo, é de forma geral, professionalizar-se. Talvez até formar-se aos assuntos da migração, coisas assim. Será que uma vez por ano, não feríamos uma formação para os voluntários, conferências para nós, para alimentar o nosso envolvimento? » A associação está num momento crítico dado o seu desenvolvimento: « Agora, precisamos estruturar-nos um pouco, porque crescemos. Há um fortalecimento, primeiro porque há mais voluntárias. A organização é mais horizontal, vamos dizer. Depois, temos chefes de pólo, porque de fato, precisamos alguém para organizar um pouco a coisa sobre cada atividade. Mas por enquanto, é a forma mais de "chefes de projetos", não muito piramidal. » Rosy completa: « Há pequenos grupos que organizam atividades, e falamos disso no encontro mensal das voluntárias. [...] Nos encontramos uma vez por mês, e se alguém tem algo a propor, ela é livre de o fazer. »

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

Para mim, Azmari é uma associação feminista, e sobretudo feita para criar independência. O que isso significa? Quando faço oficinas, é para fazer entender que criar, é muito simples. E que basta vontade de fazer. Depois, eu dou-te os meios, e se gostas, és livre de poder continuar. Por custos baixos, com poucas coisas, podes fazer coisas que nunca pensastes criar. E isso para mim, é uma pequena independência.

Rosy Vassallo, 30 anos, em carga da guarda de crianças e animadora de oficinas na associação.

Como muitas associações, Azmari constrói ainda o seu modelo econômico e vive por grande parte graças ao esforço e à contribuição dos seus membros. Na segunda metade de 2019, uma chamada às doações foi lançada na plataforma de financiamento participativo Les co-citoyens, para permitir tanto o financiamento das despesas cotidianas como também um dia de excursão à praia com as mulheres e as crianças. Mais de mil euros foram então coletados. Além dessa iniciativa, a associação chama de forma contínua às doações para permitir assumir as atividades regulares, através o site Internet: ter material escolar para as que beneficiam das aulas, brinquedos e material de desenho para as crianças, comida para os momentos de convivência com as mulheres e as suas crianças, bilhetes de metro, ônibus e trem regional (RER) para a ajuda aos transportes nas visitas culturais mensais, ou qualquer despesa relativa à organização de eventos mais pontuais (conferências, etc.).

Em França, a inserção das mulheres migrantes pela criação de laço social: o trabalho da associação Azmari

As mulheres e as suas crianças tiveram, por alguns, um percurso de exílio extremamente complicado.
Azmari les permite ter um tempo de pausa e dá-lhes chaves para uma melhora inserção social.

Marine Vicenzutti, 30 anos, em carga da comunicação na associação.

Um envolvimento voluntário concreto e que tem sentido

A ação dos seus objetivos permitem reunir voluntárias com motivações e perfiles diversos. No entanto, um elemento parece voltar ao longo dos testemunhos: a ideia de conduzir ações concretas que dão sentido ao voluntariado, e de responder a uma falta de laço social que conhecem muitas mulheres migrantes. Rosy, por exemplo, nos explica as suas motivações: « Eu sou italiana, em França há dois anos. Sou professora de artes. No meu tempo livre, gosto muito de criar. Desde 2013, faço sacos e jóias, objetos, tudo o que tem a ver com o mundo do reciclagem [...] Estudei as ciências políticas, e na Itália trabalhei para uma ONG, e já me ocupei dessa questão da introdução das mulheres imigrantes a realidades novas. E agora, eu, sou migrante! A minha família é meio italiana, meio da Venezuela, e vivi metade da minha vida na Venezuela [...]. Após um ano, quando aprendi um pouco de francês, disse ok, vou procurar uma associação. »

Marine, igualmente, nos explica os motivos do seu envolvimento: « A minha motivação, é pessoal. Inicialmente, eu queria achar uma associação para dar sentido à minha vida. E o assunto da imigração, é simplesmente porque os meus avós eram italianos; e naquela altura, ser italiano, era como ser árabe hoje, mais ou menos: apontado a dedo. E a causa das mulheres: sou uma embora não se preciso ser uma para lutar contra tudo o que é violências contra as mulheres. Portanto faço isso, mas penso que falta-me uma cultura, um conhecimento do assunto, e eu adoraria falar disso, achar a informação facilmente. » E cada voluntária vem com as suas competências, sua energia e sua mais-valia: « O meu objetivo, era ser útil num setor que eu domina um pouco – e de fato, foi a comunicação. E ao mesmo tempo, faço também a guarda de crianças para participar a uma atividade central da associação [ou seja, as aulas de francês]. Fiz estudos de marketing, e ai eu estava em funções, mais na grande distribuição, de comunicação e marketing. Em experiências passadas de associações (mais estudantes), era a comunicação também que eu tratava. »

Dado a temática tratada, e por acaso, o lugar das mulheres na associação é obviamente dominante e central: « É também ligado à Casa das mulheres que nos hospede para as nossas atividades, e que é um lugar onde os homens não podem entrar, nos explica Marine. É ai que hospedamos as nossas atividades, e os homens não são aceitos naquele lugar. De fato, isso limite um pouco o número de rapazes que participam nelas. Temos membros homens; temos um sobretudo, Idriss, que estava na parte "pares" – porque temos uma atividade onde podemos ter pares linguísticos entre um francófono e uma das nossas mulheres migrantes, e é ai que podemos alargar o círculo dizendo que se as mulheres aceitam conversar com um homem, é possível. Portanto ele, é mais naquele âmbito. Não é assim tão ruim ter um espaço que santuariza um pouco o lugar para as mulheres. No entanto, a nossa posição, é a perspetiva de inserção na cultura francesa, numa sociedade francesa... que é mista. »

A Casa das mulheres onde têm lugar as aulas dadas pela associação Azmari, em 163 rua de Charenton, no 12° arrondissement de Paris.

A Casa das mulheres onde têm lugar as aulas dadas pela associação Azmari, em 163 rua de Charenton, no 12° arrondissement de Paris.

Para ir mais longe, podem contactar ou seguir a associação Azmari nos laços Internet seguintes:

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