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O acendedor de lampiões

Podcast – Meio século depois da Revolução dos Cravos em Portugal, crônica de um povo levantado (1974-1975)

25 Avril 2024 , Rédigé par Jorge Brites Publié dans #Democracia, #História, #Identidade, #Portugal, #Sociedade, #Economia

Para o dia de hoje, que comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal, voltamos na sequência (cujos detalhes são em geral bastante desconhecidos) que seguiu a queda do regime salazarista no dia 25 de Abril de 1974, para deconstruir alguns preconceitos e para entender melhor o que justifica a palavra « revolução » no novo país que então tomava forma.

As representações mais comuns dos acontecimentos que compõem a Revolução dos Cravos são geralmente muito lineares e convencionais: basicamente, soldados cansados da ditadura e especialmente das guerras coloniais, organizam um golpe de Estado durante o qual o povo desce massivamente nas ruas e ocupa as principais praças públicas. O regime cai pacificamente (pois houve « apenas » quatro mortos, assassinados pela PIDE, a polícia política na altura do Estado Novo), tendo como símbolo desta não-violência os cravos vermelhos plantados nas espingardas. A feliz transição do país para a democracia e para a Europa pode então começar.

Contudo, a história raramente é linear ou tão simples. Foi pelos menos o que a historiadora Raquel Varela, Investigadora e Professora em história global do trabalho e dos conflitos sociais na Universidade Nova de Lisboa, desmonstrou muito bem no seu livro História do povo na Revolução Portuguesa – 1974-1975, publicado em 2014. Ela detalhe os 19 meses que seguem o dia 25 de Abril de 1974, durante os quais o Portugal conheceu um movimento social e um clima revolucionário nunca visto antes no país, com por exemplo dois milhões de pessoas nas ruas no dia 1 de Maio de 1974, e com milhares de greves, manifestações, ocupações de fábricas, empresas e equipamentos públicos, habitações vazias, grandes propriedades agrícolas, em suma, dos meios de produção.

Os 19 meses que seguiram ao 25 de Abril de 1974 constituem uma proliferação de experiências de autogestão, cogestão e democracia participativa, com uma dualidade de poderes entre, por um lado, o Estado, e por outro, milhares de conselhos de trabalhadores, conselhos de soldados no Exército, e conselhos de moradores em muitos bairros urbanos.

O livro História do povo na Revolução Portuguesa, que recomendamos com força, pode ser lido como um relato educativo da arte da Revolução Social. Pretende ser uma história popular da Revolução dos Cravos, em referência a livro Uma história popular dos Estados Unidos, do historiador norte-americano Howard Zinn. Demos o micro, por videoconferência, à Senhora Doutora Raquel Varela, em 26 de Fevereiro passado, para falar dos desafios e das dinâmicas desta revolução social – e não apenas política – que revelou-se ser a Revolução Portuguesa de 1974-1975.

*   *   *

Seguem os links para as músicas que podem ouvir ao longo deste podcast.

  • A música Grândola, Vila Morena, poema e canção do artista português José Afonso, escolhida pelos soldados rebeldes para lançar o sinal do golpe de Estado em 25 de Abril de 1974:
  • A música Sol Maior para Comandante, composta em 1979 pela banda bissau-guineense Super Mama Djombo:
  • A música Teresa Torga, composta em 1976 pelo artista português José Afonso:
  • A música Liberdade, que hoje pertence ao folclore musical pós-revolucionário português, e composta em 1974 pelo artista português Sérgio Godinho:

Podem também ouvir o podcast no canal YouTube L'allumeur de réverbères (a versão francesa de O acendedor de lampiões):

E na plataforma Audioblog Arte Radio L'allumeur de réverbères:

Entrevista e montagem: Jorge Brites.

Créditos musicais (do som da introdução): a banda Iñigo Montoya.

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