Moçambique: no MDM, rivalidades internas surgem cedo demais
Os resultados decepcionantes do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) nas eleições de 2014, após o sucesso das eleições autárquicas de 2013, deixaram o partido dividido. Exprimam-se ambições internas que surgem cedo demais, num partido que nem conseguiu, ainda, passar a ocupar o segundo lugar na cena política moçambicana.
A cena política não ficou ocupada somente pela Renamo e a Frelimo essas ultimas semanas. Depois do seu fracasso nas eleições gerais, o líder do MDM Daviz Simango multiplicou as intervenções nos mídias para denunciar uma aliança objetiva entre a Renamo e a Frelimo para derrotá-lo. « Há um projeto para acabar com MDM », dizia ele ao Savana, em Outubro de 2014. Para voltar sobre a campanha eleitoral e os resultados: Eleições de Outubro em Moçambique: quando a democracia sai a perder
O presidente do MDM exprimia uma opinião geral relativamente á situação política moçambicana, ou seja: os dois outros partidos, a Frelimo e a Renamo, tinham ambos interessas a não ver um terceiro partido surgir e impor-se no jogo político. Em declino eleitoral desde 1999 (31,74% dos votos em 2004, 16,41% em 2009), a Renamo viu com pânico a perspectiva de nem ser mais o primeiro partido de oposição, enquanto a Frelimo viu como um adversário muito mais perigoso esse novo partido que não tem mãos sujas da guerra civil, que consegue convencer além do eleitorado tradicional renamista, e cujo líder não pode servir de espantalho como o Dhlakama hoje. Para voltar sobre a campanha do MDM em 2014 e as razões do seu resultado decepcionante: Moçambique: Daviz Simango, ou as razões de um fracasso
O barulho vinda da Zambézia
Além dos dois adversários exteriores ao partido, Daviz Simango denunciou também os ambiciosos que, dentre da sua formação, decidiram não apoiar sua campanha, com esperança que um fracasso importante obrigasse-lo a sair da direção do partido para permitir a possibilidade a outros de liderar o MDM. Os olhos viravam-se logo para o presidente do Conselho municipal de Quelimane, na Zambézia, pois o Manuel de Araújo, eleito em 2011 e reeleito em 2013, aparece como uma figura apreciada pelos eleitores do MDM. Vindo do meio associativo antes de entrar na política, ele deu um impulso novo e um ar fresco á gestão da primeira cidade da província mais povoada de Moçambique.
A escolha do irmão do Daviz Simango, Lutero Simango, como presidente do grupo parlamentar do MDM, foi objeto de uma controvérsia, pois o edil de Quelimane defendeu publicamente, mas em vão, que esta carga deveria ser reservada a um deputado eleito na Zambézia, pois esta província foi aquela que enviou o maior número de deputados MDM na Assembleia da República. Uma proposta que é qualificada como regionalista e tribalista pelos adversários do Araújo.
No entanto, atrás desse regionalismo oportunista, que esconde mal as ambições do edil quelimanense, essa polêmica ilustra sobretudo a vontade de muitos no partido de ver o líder do MDM « abrir » a direção a outras personalidades. De facto, a imagem do partido não é diferente daquela da Frelimo e da Renamo quando se vê um presidente de partido e um chefe de bancada parlamentar tendo o mesmo nome, sendo familiares… Isso faz lembrar que já para as eleições gerais de Outubro, Daviz Simango tinha colocado seus familiares nas listas de deputados-candidatos MDM em outras províncias do que Sofala, o que tinha provocada muitas frustrações no MDM e chocado muitos militantes do partido.
Ambições cedas demais...
Uma coisa é óbvia: ainda é muito cedo para o MDM ser objeto de lutas internas. Primeiramente, porque o partido é muito jovem. Foi criado somente em 2009, depois da ruptura do Daviz Simango e da Renamo em 2008. Hoje em dia, nem conseguiu passar a ser o segundo partido moçambicano, ou o primeiro de oposição, mesmo depois de ter sucedido quatro municípios em Novembro de 2013: Beira, Quelimane, mas também Nampula e Gurué. É bem cedo para ver já o líder do partido contestado. Apresentou-se a duas eleições presidenciais, e o resultado, que podia aparecer como um sucesso em 2009 (8,59% dos votos, contra 16,41% para Dhlakama), dá uma sensação de fracasso hoje (6,36%, contra 36,61% para o líder da Renamo).
E em segundo lugar, a experiência do Manuel de Araújo como edil de Quelimane é muito curta. Não adiante ter popularidade, e não adiante ter uma boa comunicaçao sobre os projetos que se tem para o seu município. É preciso o presidente do Conselho municipal convencer do sucesso da sua gestão municipal com elementos concretos, que mudam a vida dos Quelimanenses. É preciso ele concentrar-se nessa tarefa, e não olhar na escala nacional. Porque de facto, gerir um município desde de 2011, faz pouco tempo. Já é óbvio que as práticas políticas mudaram em Quelimane. Deu-se um impulso imenso á democracia direta. Mas sobre as questões fundamentais do dia-a-dia dos habitantes, ou seja, o desenvolvimento econômico, a gestão dos resíduos sólidos, os transportes públicos, etc. é só daqui alguns anos que será possível avaliar até que ponto os discursos tornaram-se realidade. O tempo político tem um ritmo lento, e é preciso as ambições entenderem isso.
... frente ao autoritarismo interno do Simango
É preciso também lembrar que as contestações relativas às escolhas do Daviz Simango internamente ao partido explicam-se pelas esperanças que o MDM levou quando foi criado. Mesmo sendo nascido duma ruptura com a Renamo, de facto, esse partido atraiu pessoas tanto Renamistas como Frelimistas ou sem ligações partidárias. Muitas pessoas quiseram ver no MDM a esperança dum partido democrático, sincero na sua abordagem da política, enquanto é preciso lembrar-se que é também o partido dum clã, duma família, a família Simango. E ai, há personalidades fortes no MDM que não o aceitam como tal, porque os discursos do MDM entram então em contradição com os fatos... ou com as ambições deles, que surgem muito cedo, como jà foi dito, na vida política do MDM.
O MDM, mesmo com seus resultados decepcionantes de Outubro, conseguiu propor uma nova oferta eleitoral aos Moçambicanos. Com as suas contradições, o partido traz um ar fresco à vida política moçambicana. Como em Fevereiro passado, quando os deputados recém-eleitos do MDM fizeram uma proposta de lei sobre despartidarização das instituições do Estado. É importante numa democracia os debates não serem exclusivos entre dois partidos somente. É preciso o MDM aparecer mais unido e transparente no futuro, para poder aparecer como uma alternância credível aos Moçambicanos. A democracia preciso disso.