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O acendedor de lampiões

« Estado-nação do povo judeu »: quando Israel joga a carta do apodrecimento e da separação

2 Août 2018 , Rédigé par David Brites Publié dans #História, #Identidade

O silêncio ensurdecedor da comunidade internacional que acompanhou, nesses últimos dias, a adopção de uma lei controversa que faz de Israel o « Estado-nação do povo judeu » questiona seriamente sobre o grau de tolerância em relação de um regime que parece cada vez mais afundar-se numa retórica nacionalista e comunitária fétida, ao custo da democracia e da paz. Setenta anos após a vitória eleitoral dos nacionalistas africânderes que iniciou, na África do Sul, a implementação do regime do Apartheid consagrando a estrita separação das comunidades raciais e a estigmatização da maioria negra, a História parece repetir-se tragicamente.

Já o sabemos, desde o fracasso militar das coligações árabes em 1967 e 1973, os Palestinianos, representados desde 1964 pela Organização de Libertação da Palestina (OLP), são relativamente sozinhos diante do Estado de Israel. Logo em 1973 em Argel e em 1974 em Rabat, a Liga Árabe tinha confirmado o direito da OLP a representar o povo palestiniano. Os Estados árabes reconheciam assim a supremacia do seu inimigo e deixavam entender que eles não assumiam mais a sua parta num conflito que eternizava-se e cuja conclusão, aparecia cada vez mais óbvio, não se faria no terreno das armas. Em 1979 e em 1994, respetivamente o Egipto e a Jordánia assinaram um tratado de paz com Israel.

Desdes então, os Palestinianos iniciaram um longo e laborioso caminho para o reconhecimento do seu estatuto de Estado. Obrigados a deixar o Próximo Oriente após o « Setembro negro » de 1974 na Jordánia e a intervenção de Israel no Libão a partir de 1982, é desde Argel que os representantes da resitência palestiniana proclamam a independência da Palestina, em 15 de Novembro de 1988. O contexto de aproximação entre o Primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin e o presidente da OLP Yasser Arafat a partir de 1992 permite a este de voltar em Gaza, após 27 anos de exílio, em 1 de Julho de 1994, para formar um governo sob a apelação de « Autoridade palestiniana ». Contudo, o assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 acaba com o ciclo de negociações lançado em Oslo. Sobretudo, a continuação da colonização judia na Cisjordánia, e desde 2022 a construção de uma « barreira de segurança » (declarada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça) confiscando 9% do território palestiniano, tornam impossível a solução com dois Estados. Um silêncio impressionante acompanha a construção de milhares e milhares de alojamentos nas colónias israelenses. Contava-se 50 000 colonos israelenses em Cisjordánia em 1987, 260 000 em 1993. Para pelo menos 130 colónias, contava-se em Outubro de 2012 pelo menos 350 000 Israelenses; e isso, sem esquecer os 350 000 outros instalados em Jerusalem-Leste. Mais recentemente, em Agosto de 2016, Israel aprovou a construção de 463 novos alojamentos nas colónias de Cisjordánia, num contexto de indiferença geral.

A isso ascrescentam-se uma política de asfixia económica dos territórios palestinianos, em particular a faixa de Gaza que é sob bloqueio desde que o Hamas assumiu o seu controlo em 2007; e uma situação securitária insupportável para a Autoridade palestiniana. O exército israelense intervem como quer na Cisordánia, como também, mas de maneira mais espectacular e violente, em Gaza, em geral no âmbito de represálias (disproporcionadas) aos tiros de foguetes conduzidos pelo Hamas. Assim, a operação militar « Pilar de defesa », em Novembro de 2012, provocou a morte de 174 Palestinianos, entre os quais sete líderes do Hamas. De um tamanho maior, a operação « Chumbo fundido », em Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, fez 5 500 feridos e mais de 1 300 mortos palestinianos, entre os quais dois terços de civis (mais de 400 crianças).

Contudo, e talvez porque a postura de Israel parece indicar uma falta total de vontade de favorecer um processo de paz credível, os dirigentes do Fatah decidiram conduzir um combate diplomático para o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano, de forma unilateral, sem esperar que os Israelenses – satisfeitos do espantalho encarnado pelo Hamas, vencedor das legislativas palestinianas de 2006, que lhe permite recusar qualquer diálogo – sejam ou não dispostos a conversar. Em 23 de Setembro de 2011, contra a opinião de Israel e dos Estados Unidos, Mahmoud Abbad apresentou um pedido oficial de adesão à ONU para o Estado palestiniano, nas fronteiras de 1967, com capital Jerusalem. Washington opôs por veto no Conselho de segurança da ONU, mas a iniciativa recebeu, porém, o apoio da população palestiniana, cansada do conflito, e da comunidade internacional, excepto uns paises ocidentais. Em Dezembro de 2011, o país ganhou o estatuto de membro na UNESCO. Obrigado a reduzir as suas ambições pelo veto norte-americano, Mahmoud Abbas apresenta oficialmente, em 29 de Novembri de 2012, um pedido à Assembleia geral das Nações Unidas para dar ao seu país um estatuto de Estado não membro (ou « Estado observador »), com base as fronteiras de 1967. Este processo não necessitava o voto dos membros permanentes do Conselho de segurança, por isso o pedido foi validado, o mesmo dia, por uma maioria da Assembleia.

O que contem o novo pacoto legislativo israelense?

Em 9 de Julho passado, o Parlamento israelense, a Knesset, adoptou uma lei fazendo de Israel um Estado judeu. Adoptado após horas acesas de debate por 62 votos contra 55 (e duas abstenções), ela entra na categoria das leis fundamentais que servem de Constituição em Israel. O texto era desejado pelo chefe do governo, já há muito tempo, pois logo em 1 de Maio de 2014, Benjamin Netanyahou, Primeiro ministro desde 2008, tinha declarado, em Tel-Aviv: « Uma das minhas principais missões [...] é defender o estatuto do Estado de Israel como Estado nacional do nosso povo. [...] Para isso, eu tenho a intenção de submeter uma lei à Knesset, que constituirá um ancoragem constitucional para o estatuto de Israel como Estado nacional para o povo judeu. » Quatro anos depois, é feito. Esta lei, certamente, foi epurada das suas formulas mais polarizantes. Pois na primeira versão do texto, era mencionada a possibilidade de criar localidades reservadas aos judeus, excluindo os cidadãos árabes israelenses – por lembrança, esses últimos representam 1,8 dos 9 milhões da população total israelense. A nova formula é mais vaga mas permanece contestada, por exemplo pelo deputado árabe Ayman Odeh, o qual brandiu uma bandeira negra à tribuna do Parlamento, durante os debates sobre a lei, para assinar « a morte da nossa democracia ». Outra disposição finalmente retirada: era previsto que, diante dos tribunais, na ausência de uma jurisprudência relevante, a lei ritual judia devia aplicar-se. Se elas não foram guardadas, essas opções, para o simples fato de ter sido propostas numa primeira versão, questionam seriamente a sinceridade da adesão dos dirigentes israelenses à democracia, pois eles faltaram suficientemente de bom senso para propor disposições estabelecendo, para uma, o princípio discriminatório e racista de separação em função da pertença étnica e religiosa, para outra, a aplicação de uma lei religiosa – inclusive a cidadãos não crentes ou adeptos de uma outra religião.

O resto da lei questiona também. De fato, relega ao segundo plano da cidadania israelense os 20% de Árabes que têm a nacionalidade. A lei define Israel como « o Estado-nação do povo judeu ». Ela estipula em particular que o hebreu torna-se a única língua oficial de Israel, enquanto o árabe tinha, desde 1948, um estatuto idêntico ao hebreu. Ela afirma também que o « direito à autodeterminação em Israel » só pertença ao « povo judeu ». Formulo choquante que faz dos únicos judeus os depositários legítimos da soberania nacional, e que interroga sobre a sua tradução concreta: por exemplo, um referendo de autodeterminação (determinando o estatuto político do país, em particular) excluiria os cidadãos não judeus? Pegada no seu sentido largo, poderia ela traduzir-se por inibições de nacionalidade para os cidadãos não judeus? Será que temos aqui a base para uma cidadania diferenciada segundo as origens, em Israel, uma cidadania oferecendo a nacionalidade de plenos direitos, e a outra com restrições?

Finalmente, na continuação lógica de muitas decisões tomadas nos últimos anos para criar novos alojamentos nas colónias, o texto declara que as « implantações judias [em Israel] relevam do interesso nacional » e que « o Estado tomará as medidas para encorajar, fazer avançar e servir este interesse ». Entender: a política de colonização que, acrescentada à construção do « muro de separação » e às incursões do exército israelense, impede a implementação zefectiva de um Estado nos « territórios palestinianos », não só vai continuar no futuro, mas ainda mais, é erguido em objetivo de interesse nacional. Uma notícia bem ruim para a paz, para a coexistência das comunidades, mas também para os Cisjordanos que irão sofrer das contínuas expropriações e expulsões arbitrárias e ilegais.

Sob a autoridade de Benjamin Netanyahou, Israel continua portanto num caminho desenhado há décadas e cuja marca a mais óbvia é o fenômeno de colonização dos territórios palestinianos. Esta política confirma a supremacia militar israelense e acentua a separação das comunidades, com a ilusão de acrediter, como podem o ter feito os Africânderes no regime de Apartheid, que esta situação seria, no longo prazo, em seu favor. O território de Jerusalem-Leste não saia deste processo de acaparamento, com toda a carga simbólica que isso induz. Aprovado em 1998 (Netanyahou já era chefe do governo naquela altura), o projeto de Grande Jerusalem foi explicitamente relançado desde 2009: ainda ai, a sua organização espacial consagra a segregação dos Palestinianos morando na cidade.

A área de separação, com o « muro de segurança » no horizonte (Crédito foto © Ophélie Hémonin, 2009).

A área de separação, com o « muro de segurança » no horizonte (Crédito foto © Ophélie Hémonin, 2009).

A estratégia do apodrecimento: o impasse da separação das comunidades

A questão de saber se Israel é um « Estado judeu », o « Estado dos judeus » ou o Estado de todos os cidadãos de nacionalide israelense, não é qualquer, pois ela determina o tipo de relações que existêm entre o Estado e os seus cidadãos não judeus. Num país como a França, o Portugal, o Brasil, O Reino Unido, até partidos extremistas não pretendem (pelo menos oficialmente) que sejam a nação dos únicos cristãos ou descendentes de populações europeias brancas. Sente-se ai a influência dos partidas de extrema-direita aliados a Netanyahou, com toda a sua dimensão religiosa e identitária. Ao princípio de igualdade entre os cidadãos, esses privilegiam a preservação da sua « identidade » e da sua independência como povo judeu. Como as extremas-direitas europeias, como a extrema-direita norte-americana (em relação à imigração de origem latino-americana), e como os defendedores do Apartheid na África do Sul, o grande receio da extrema-direita israelense tem a ver com a questão demográfica. E em vez de procurar um princípio de igualdade geral que assegura a proteção dos judeus e a coexistência, inclusive num futuro onde hipoteticamente os muçulmanos seriam maioritários no país, ela parece – no seu grande medo instintivo do choque permanente das civilizações – privilegiar o postulado segundo o qual judeus e muçulmanos serão sempre inimigos. Dai, uma estratégia aliando separação e discriminação, com objetivo « quebrar » as dinâmicas demográficas e espaciais palestinianas, e destituir gradualmente os Árabes israelenses e os Palestinianos de qualquer capacidade de influência na tomada de decisão.

Esta visão exclusiva da nacionalidade israelense é de fato implementada há anos. Ela é claramente visível na postura do governo israelense na questão da imigração, inclusive o tratamento dos recém-chegantes judeus vítimas de discriminações como podem ser, em particular, os Falashas, ou seja, os Etiopianos judeus vivendo em Israel. Por lembrança, em 2013, o governo israelense, depois de ter várias vezes desmentido essas acusações, admitiu – após que o escândalo foi revelado pela televisão israelense, no programa educacional Vaccum – ter obrigado as suas migrantes etiopianas a receber injecções contraceptivas antes de entrar no seu território. Era portanto resolvida a questão da queda da fecondidade dos judeus etiopianos nos oito anos anteriores: as candidatas à imigração eram forçadas a receber, em acapamentos de trânsito, uma injecção de um agente contraceptivo de longo prazo, chamado Depo-Provera – uma operação que elas devem depois subir todos os três meses, um vez instaladas em Israel. É dificil representar-se a violência que pode representar para cada mulher em questão um processo desse. Sobretudo, o que dizem da política de acolhimento israelense tais processos,a não ser que é profundamente racista? Poderíamos ver tais medidas num regima fascista, mas não numa nação democrática. Além disso, isso é apenas a parte emersa do « icebergue » das Falashas, pois globalmente essa comunidade (entre os quais 120 000 membros moram ainda em Israel), vinda instalar-se no país entre 1977 e 1999, permanece amplamente vítima de discriminações.

O Primeiro ministro israelense fez do reconhecimento de Israel como Estado judeu um elemento essencial de qualquer acordo de paz, assegurando que a « raiz do conflito » entre os dois povos era a rejeição árabe de um tal Estado, e não a ocupação dos territórios palestinianos desde 1967. Duas coisas a notar. Primeiramente, sim o princípio de um Estado que seria outra coisa do que uma nação multicomunitária, que pelo menos proporia uma terra de acolhimento para qualquer judeu persecutado (um « lar nacional judeu », para retomar a formula da declaração Balfour em 1917), o princípio de um Estado que se proclamaria oficialmente judeu, é choquante, em particular porque seria discriminante em relação a todos os cidadãos deste Estado que não são judeus. Aliás, a comunidade drusa – praticando um islão heterodoxo e que representa 2% da população israelense – o entendeu bem, pois, tradicional aliada dos judeus israelenses, ela protesta vigorosamente contra o projeto de lei e reclama que aparece dentro a noção de igualidade.

Sobretudo, mesmo se a « raiz do conflito » fosse originalmente da rejeição árabe de um Estado judeu, a persistência, hoje, do conflito, já não deve-se a isso, mas tam bem a ver com a ocupação, o acaparamento das terras, a colonização dos territórios palestinianos. A OLP reconheceu o Estado de Israel em 1993, e a entrada da Palestina como Estado-observador na ONU, com base as fronteiras de 1967, mostra que os Palestinianos reconhecem a existência de um Estado israelense dotado dos limites que lhes eram conhecidas entre 1948 e 1967. Além disso, os Palestinianos só podem rejeitar a exigência de um Estado oficialmente judeu, pois o aceitar traduzaria-se em renunciar (sem contraparte) ao « direito ao retorno » dos refugiados.

Em 30 de Setembro de 2015, Mahmoud Abbas proclamava diante da Assembleia geral da ONU não tomar mais conta dos acordos de Oslo: « Nós declaramos que não podemos continuar a nos guardar ligados por esses acordos, que Israel deve assumir todas as suas responsabilidades, como potência ocupante, porque o statu quo não pode perdurar mais. » A postura do presidente palestinano tem como objetivo sair desta situação na qual a questão palestiniana é tratada como um conflito entre duas forças iguais. Há uma « potência ocupante », e ela representa o primeiro freio ao processo de paz. Aliás, os Israelenses, que denunciam as iniciativas unilaterais dos Palestinianos com alvo o reconhecimento do seu Estado, não privam-se, eles, para conduzir, tão unilateralmente, a sua política de ocupação e de colonização. A qual política responde a objetivos políticos (impedir de fato a criação de um verdadeiro Estado palestiniano, entre outros), mas também energéticos e estratégicos. Portanto, os Palestinianos são muitos a reclamar há anos a retirada das tropas israelenses do vale do Jordão e o desmantelamento das colónias judeus nesta região rica em água, chamada a tornar-se a fronteira oriental de um Estado palestiniano.

Por lembra, o território palestiniano é administrativamente partilhado como segue: a área A (2%), composta do essencial das cidades palestinianas (excepto Jerusalem-Leste), é sob controlo total do governo palestiniano; a área B (26%) é sob controlo palestiniano civil mas sob controlo militar israelense; e a área C (72%) é sob controlo total israelense. Neste contexto, como pode-se falar de responsabilidade partilhada? A expressão potência ocupante é bemvinda e questiona sobre o dois pesos-duas medidas imposto aos Árabes e aos Israelenses. De fato, a comunidade internacional mostra particularmente bondosa (ou indiferente) aos atos de Israel, enquanto um esforço enorme é pedido aos Palestinianos para provar a sua sinceridade. Nisso, o lugar tomado pelo Hamas, inscrito pelos Ocidentais na lista dos grupos terroristas, na vida política palestiniana desde o seu sucesso eleitoral de 2006 representou uma oportunidade para o governo israelense. Primeiro porque logo em 2007, o Fatah e o Hamas conseguiram criar uma situação de bloqueio político e securitário que desserve os interesses palestinianos. Segundo, porque o Jamas, fechado na sua retórica belicista, serve de espantalho. Contudo, o movimento já fez imensas concessões nos dez últimos anos, e após dois acordos de reconciliação Fatah-Hamas finalmente sem consequências (o primeiro assinado em Maio de 2011 no Cairo, o segundo em Fevereiro de 2012 em Doha), um novo acordo rubricado em 23 de Abril de 2014 permitiu, em Junho do mesmo ano, a implementação de um governo técnico. Este accordo confirma a ideia de uma soberania palestiniana com base as fronteiras de 1967, o que supõe um reconhecimento implícito de Israel pelo Hamas. Mas em resposta a esse acordo, o governo israelense anunciou, em 6 de Junho de 2014, projetos de contrução de 3 300 alojamentos de colonos na Cisjordánia e em Jerusalem-Leste – o número de obras de alojamentos lançadas nas colónias já tinha sido multiplicado por dois em 2013 em relação ao ano anterior, passando de 1 133 para 2 534. Atitude construtiva dos Israelenses?

Em toda a sua diversidade política, os Palestinianos são supostos focar bem educados, esquecer setenta anos de violências e rancores, e mostrar constantemente a bochecha aos Israelenses, esperando de receber um enésimo soco no rosto. Mas o que é exigido de Israel, cujo governo atual conta no apoio de forças políticas cujo extremismo comparar-se facilmente com o do Hamas, e baseia o seu acordo de coligação no princípio da ocupação e da colonização?

Perspetivas políticas e geopolíticas sombrias

Em Setembro de 2012, protestos surgirem na Cisjordánia, com alvo denunciar os preços elevados dos produtos de primeira necessidade. Concluirem-se com uma diminuição do preço da gasolina e com um pedido oficial do governo palestiniano para renegociar o protocolo de Paris que enquadra desde 1994 a dependência financeira palestiniana em relação a Israel; o recuso dos Israelenses ilustra o seu interesse a uma estagnação económica acompanhada por restrições orçamentais na Palestina. Enquanto a decisão da Autoridade palestiniana, em 23 de Setembro de 2012, de suprimir as restrições às importações de bens de consumo israelenses (excepto os proveniente das colónias), com objetivo uma diminuição dos preços, revela a margem de manobra reduzida desse mesma Autoridade palestiniana. Em 2013, o Banco Mundial estimava a falta do governo palestiniano, dado aos diversos controlos e restrições implementados por Israel na Cisjordánia, a mais ou menos 2,5 bilhões de euros por ano; os Palestinianos disponheriam portanto de um terço de PIB a mais se « as empresas e as explorações agrícolas eram autorizadas a desenvolver-se » na área totalmente controlada por Israel (área C). Em Gaza, a situação humanitária é ainda mais preoccupante. Muito tempo contornado por uma ampla rede de tuneis (muitos foram destruidos em Agosto de 2012 pelo exército egípcio, para lutar contra os tráficos), o bloqueio asfixia esse pequeno território povoado por 1,95 milhões de habitantes, vítimo, por outro lado, do controlo pesante do Hamas em todas as áreas da vida política e administrativa local.

Portanto, o statu quo permanece,, segundo os desejos dos Israelenses cujo governo parece acreditar que o apodrecimento lhe é favorável no longo prazo. De fato, reduz cada vez mais as chances de uma conclusão feliz, mantendo na miséria e na marginalização, dentro das suas fronteiras como em exílio, milhões de Palestinianos que crescem e vivem no ódio de Israel – nem se fala do impacto da política israelense sobre a imagem dos judeus em geral, pelo mundi. Após as Intifadas de 1987 e 2000, os ataques cometidos por esfaqueamento em 2015-2017, ou ainda os protestos (reprimidos no sangue) conduzidos à fronteira de Gaza em Maio de 2018, são apenas as expressões populares as mais evidentes, esses últimos anos, de toda a frustração contida pelo povo palestiniano. A continuação determinada de projetos tão importantes como injustos, identificados como vitais por Netanyahou e os seus aliados, como o Grande Jerusalem, o muro dite de segurança e a colonização judia na Cisjordánia, são tantos exemplos perfeitamente ilustrativos da falta explícita de vontade de Israel de obter uma paz baseada na coexistência de dois Estados que se olhariam num plano de igualdade. Esses projetos deixam a pensar, pelo contrário, que uma anexão gradual da Cisjordánia (ou pelo menos a sua fragmentação profunda) e a exclusão espacial e social dos Árabes que permanecerão no Estado judeu ou às suas margens é a garantia, para muitos Israelenses, que o seu país não deixará de ter uma maioria demográfica judia. Globalmente, o apoio explícito de cicadãos ao direito dos Palestinianos à autodeterminação permanece raro e tímido. O protesto de 10 000 deles, em Tal-Aviv, em 5 de Junho de 2011, para exprimir o seu apoio à indépendência de um Estado palestiniano, não deixa de ser um dos raros exemplos deste tipo nos últimos anos.

E em 2 de Dezembro de 2012, a escolha do governo israelense de bloquear (até o 25 de Março de 2013) a transferência das taxas coletadas por Israel ao benefício da Autoridade palestiniana, em represália à adesão da Palestina às Nações Unidas como Estado-observador, confirma a estratégia de chantagem adoptada pela potência israelense – aliás, quel é a legitimidade de Israel para colectar as taxas em vez do governo palestiniano? –, e o recuso de reconhecer o direito dos Palestinianos a um Estado, inclusive nas fronteiras de 1967. Contudo, a aceitação dessas mesmas limites de 67 pelos Palestinianos representa em si um passo considerável, pois ela supõe que os mesmos reconhecerem a supremaria de Israel, a permanência de milhões de Israelenses na região, e portanto que eles renunciaram, de uma certa maneira, às principais revindicações dos 5,4 milhões de Palestinianos morando nos países vizinhos (Jordánia, Líbano, Síria, Egipto...) com o estatuto de refugiados.

A implementação de um Estado único, secular, igualitário, nem é considerada, enquanto representaria a solução a mais justa em relação aos Palestinianos, e ofereceria perspetivas de resolução da questão dos refugiados palestinianos (direito ao retorno ou contrapartes). Seria também a opçãoa mais sustentável e a mais desejável para os próprios Israelenses: consagrando uma igualdade de todos os cidadãos, sejam qual for os origens de cada um, ela constituiria uma garantia diante o que os extremistas israelenses consideram como uma ameaça existencial, ou seja, a dinâmica demográfica árabe no país. Enquanto Israel e Palestina poderiam oferecer um modelo de coexistência pacífica das comunidades – num contexto em que os cristãos desertaram em massa países da região nos últimos anos, como o Iraque, o símbolo seria grande –, o autoproclamado « Estado-nação do povo judeu » vem claramente tomar um outro caminho; o fato que o hebreu torna-se a única língua oficial do país, ao custo do árabe, é, neste assunto, muito ilustrativo. Tal como os Balustanes, essas regiões reservadas aos Negros sob o regime do Apartheid, a Palestina transforma-se atualmente am área autónoma mas desprovida de direito à autodeterminação e da maioria das prerogativas de um Estado; e os cidadãos não judeus são relegados, pelo menos simbolicamente, ao estatuto de cidadãos de segunda classe, o que abra portas, no futuro, para lhes destituir de muitos direitos.

Ao contrário da África do Sul de Pieter Willem Botha, o Israel de Benjamin Netanyahou não sofre de uma boicot da comunidade internacional, e por isso, a mesma tem uma responsabilidade considerável nos atos deste Estado e na continuação do conflito. Claro, vê-se uma ou duas vezes por ano indignações à la carte exprimir-se nas redes sociais virtuais, ou porque uma rapariga osou (e certamente ela precisou coragem para isso) esbofetear soldados israelenses, ou porque tal dia de repressão provocou um número de mortos mais importante do que de costuma na Faixa de Gaza, ou, ainda, porque tal chefe de Estado estrangeiro exprimiu excepcionalmente críticas em relação a Israel (o presidente turco torno-se perito nessa matéria, sem medo das contradições com as violações que o mesmo comete no seu próprio país). Mas globalmente, observa-se sobretudo um silêncio ensurdecedor diante das decisões do governo israelense, mais discretas mas bem reais (e com grandes consequências), em termos de expropriação e de expulsão – em Junho de 2013, a Knesset ainda aprovou um plano de deslocamento forçado de milhares de pessoas (entre 30 e 70 000 segundo as fontes) no âmbito da destruição de 35 aldeias e vilarejos beduínos muito pobres e não reconhecidos pelo Estado de Israel, o que constitui provavelmente o movimento de população o mais importante desde a Nakba (« catástrofe ») de 1948 –, mas também em termos de construção de alojamentos nas colónias israelenses e de asfixia económica nos territórios palestinianos.

O muro de separação (Crédito foto © Ophélie Hémonin, 2009).

O muro de separação (Crédito foto © Ophélie Hémonin, 2009).

Agosto de 2017, no contexto da ofensiva « Borda de defesa » que provocou a morte de quase 2 200 Palestinianos à final, e o deslocamento de 520 000 outros.  A uma jornalista francesa que lhe pergunta, no canal France 24: « O que diz aos vossos aliados do Hamas? Vocé diz "Continuem esta guerra contra Israel', ou "aceitem um cessar-fogo"? », um diplomata palestiniano afiliado ao Fatah responde com as palavras seguintes.

O Hamas, que nesta agressão israelense e nesta guerra, fez 27 mortos israelenses, entre os quais 25 militares israelenses – 25 sobre 27 são militares da potência ocupante israelense –, seria uma organização terrorista. E os que fazem 530 mortos, entre os quais 90% civis, seria o país civilizado neste conflito. O nosso governo de unidade nacional fez com base os nossos compromissos internacionais. Fez-se para que possamos avançar na via da paz, mas também na via da libertação nacional palestiniana, que é a condição da paz. Em que base é feita a coligação israelense atual, de extrema-direita? Não é feita com base a ocupação e a colonização? Como traremos o Hamas em posições polítiticas mais moderadas? Se em dez anos de Mahmoud Abbas, este governo israelense construiu mais de cem mil colónias nas nossas terras, como os traremos, enquanto a potência ocupante israelense detem como refens 6 000 prisoneiros palestinianos? Como havemos de convencer o nosso povo que o governo israelense atual é um parceiro para a paz, e não uma potência ocupante e um governo de apartheid, quand este governo de partheid continua a construção do murro, faz incursões nas nossas cidades, na própria Cisjordánia, continua a matar Palestinianos e crianças? O que havemos de lhes dizer, nós que defedemos este projet de paz e este projeto de libertação pelas vias políticas e pacíficas? [...]

Sete anos de bloqueio na Faixa de Gaza, uma gressão israelense e bombas que caiam nos nossos civis, o que vamos lhes dizer? « Baixem as armas e deixem-vos bombardear », é isso o discurso político que devemos levar? Estamos tentando chegar a um fim da agressão e um levantamento dos cercos. Que a comunidade internacional nos ajude, e teremos então algo para dizer ao Hamas. Que a comunidade internacional nos ajude a por fim à ocupação por vias políticas e pacíficas, e então, teremos algo para dizer ao Hamas. Mas é preciso falar aos que beneficiem da impunidade total. Sabe, o Hamas é colocado nas listas das organizações terroristas, ele é boicotado pela comunidade internacional. [...] [Esta] impunidade israelense que persegue-se é a razão essencial para que o processo de paz não avança. Não é o Hamas. É a ocupação. É a denegação dos direitos dos Palestinianos desde sessenta anos. Basta de dizer que, porque há a revolta dos escravas, a escravidão é aceitável. Certemente, às vezes, podemos mal nos conduzir, claro, pode haver violações de direitos, e podemos as olhar. Mas então, que Israel vem, vamos juntos assinar os estatutos de Europa, vamos juntos diante do Tribunal Penal Internacional, veremos, ele determinará quem tem razão e quem está errado. Os tribunais militares israelenses não se privam de julgar os Palestinianos, enquanto são totalmente ilegítimos. Diga-me lá quantos colonos ou soldados israelenses têm sido julgados para seus crimes? Zéro. Portanto é preciso parar com isso: há uma potência ocupante, que ela ponha termo à ocupação!

Majed Bamya, diplomata palestiniano, em França 24. Agosto de 2014.

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