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O acendedor de lampiões

A inovação será reservada aos países do Norte? O contra-exemplo da Mauritânia

10 Octobre 2018 , Rédigé par Jorge Brites Publié dans #África, #Economia

Durante muito tempo, foi considerado que o Norte industrializado inovava e o Sul imitava. Hoje, é claro que esta ideia é desatualizada. Em África, na China, no Brasil ou na Índia, por exemplo, milhares de empreendedores testemunham do seu engenho, e inventam soluções sustentáveis e rentáveis para responder às necessidades socio-económicas das comunidades locais, usando um mínimo de recursos. São pioneiros duma abordagem radicalmente nova, a inovação frugal.

Tomando o exemplo da Mauritânia, onde as comunidades de jovens já se organizam e trabalham na realização de projetos inovadores sobre as novas tecnologias ou energias renováveis, quebra-se os estereótipos ligados ao continente africano.

Pelo seu tipo (a conferência a mais larga organizada até hoje, com quase 40.000 participantes nos quais 150 chefes de Estado ou de governo), e pela emergência ambiental à qual ela responde, a Conferência das partes (Cop) 21 que organizou-se em França em 2015 foi apresentado como um momento histórico. Por isso, muitos dirigentes, políticos locais, atores do setor económico ou da sociedade civil, tiveram discursos militantes e envolveram-se bastante.

O setor público não ficou de lado. Assim, Paris e Washington apresentaram em 30 de Novembro de 2015, primeiro dia da Conferência, Missão Inovação, uma iniciativa reunindo 20 países nos quais o Reino-Unido, o Japão e os Emirados árabes unidos, para multiplicar por 2 os seus investimentos na pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas energias « limpas ». Problema: aqui como muitas vezes, para mostrar que age-se, é preciso provar que colocamos meios. E estes meios, é dinheiro. Apesar do que a mudança climática vai pedir mais do que dinheiro. A ideia segundo a qual a inovação e a pesquisa são sempre uma questão de meios financeiros, é ultrapassada. No entanto, é a mesma lógica que fez pensar durante muito tempo que a inovação tecnológica e as competências concentravam-se no Norte – ou seja, onde está o dinheiro.

Logo de MauriAndroïd.

MauriAndroïd e o saber dos desenvolvedores mauritanos

Mauritânia faz parte destes países que ninguém associa às novas tecnologias e ao conceito de inovação. No entanto, em Nouakchott, a capital, faz-se há uns anos, lentamente, discretamente, pequenas revoluções no setor das novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC). Uma das primeiras, Moustapha Adi Ould Yacoub a conta. Jovem engenheiro em desenvolvimento de programas, ele criou em Abril de 2013 MauriAndroïd, uma comunidade de desenvolvedores querendo formar pessoas ao desenvolvimento de aplicações móveis. Seu objetivo: tornar a Mauritânia um país produtor, e não só um consumidor de aplicações digitais. Seu constato inicial: o mercado tecnológica ainda é virgem em Mauritânia, o que constitue uma vantagem para qualquer empreendedor da inovação e da criação digital.

O país tenta reduzir o atraso que ele tinha cumulado en termos de acesso Internet (em particular com os jovens, que são cada vez mais conectados) e de penetração da rede. Atualmente, os poderes públicos trabalhariam sobretudo sobre o projeto WARCIP, financiado pelo Banco mundial, cujo objetivo é dar ao território nacional uma conexão Internet alto-débito, por um cabo submarino. O contacto e o trabalho dos desenvolvedores vivendo no interior do país será notavelmente facilitado.

Outro constato, a Mauritânia conta jovens competentes e com saber no setor dos NTIC. Ou porque são formados aqui (a linguagem informático Java é ensinado, por exemplo), ou porque eles estudarem no estrangeiro, na região (é o caso de Moustapha Adi, formado em Tunisia), ou porque eles auto-formam-se, entre eles e graças a Internet, e fazem prova duma grande autonomia e duma vontade de aprender. Moustapha nos explica: « Se pegas o exemplo do que chamamos "o ponto quente" (um cruzamento do centro de Nouakchott onde se vendem os telemóveis e outros aparelhos electrónicos), os vendedores são pessoas sem educação. É picareta, truque, sem formação. Se damos formações às pessoas e as ajudamos a orientar-se, teremos também a nossa Sahara Valley », em referência à famosa Silicon Valley americana.

É com esta convicção que MauriAndroïd, agora constituída em associação, adoptou um funcionamento em ramos: a comunidade conta desenvolvedores chamados de seniores; cada um tem em carga de acompanhar três « juniores » por ano. O objetivo é, não só de os formar, mas também de os ajudar nas suas iniciativas, sem nada em retorno. Entre 30 e 40 desenvolvedores atualmente membros tentam dotar-se de uma dezena de aplicações sobre Play Store, a loja online de aplicações móveis. Mais ambicioso ainda: a associação quer dispor rapidamente dum laboratório de criação das aplicações, que constituiria um espaço dedicado aos testes de aplicações, mas também um espaço de reflexão e de trabalho em outros assuntos ligados às novas tecnologias, em particular a robótica. O setor dos drones sobretudo, parece cheio de promessas num país onde a falta de infra-estruturas deixe interessante qualquer novo modo de transporte, cartografia, captura de imagens vídeos ou fotográficas, cobertura dos eventos públicos, etc.

A inovação será reservada aos países do Norte? O contra-exemplo da Mauritânia

Minha esperança: ver a Mauritânia tornar-se um produtor de novas tecnologias, e não só um consumidor.

Moustapha Ali Ould Yacoub, criador de MauriAndroïd e membro do GDG Nouakchott.

Ainda há trabalho antes de ter a « Sahara Valley » evocado por Moustapha Adi: a Silicon Valley criou-se na Califórnia a partir dos anos 1960-70, num contexto muito favorável com o qual a Mauritânia está bem, bem longe. Nas regiões (wilayas) do interior, a rede de acesso a Internet com alto-débito ainda está em curso de consolidação. O país não tem nenhuma universidade formando engenheiros de alto nível (muitos empreendedores mauritanos da inovação foram formados no estrangeiro), e a política nacional sobre a propriedade intelectual não é favorável à criação. Sobretudo, a Silicon Valley foi possível, nos Estados-Unidos, graças a um ambiente de liberdade individual característico da sociedade norte-americana, que não existe assim em Mauritânia. Lembramos que antes de criar a enciclopédia online Wikipedia com o seu parceiro Larry Sanger em 2000, o empreendedor Jimmy Wales tinha lançado vários projetos, nos quais Bomis, um mecanismo de pesquisa erótico vendendo imagens de mulheres com roupa curta. Outro exemplo, Facebook era, na origem, somente uma pequena rede social limitada a estudantes de Harvard. Dito duma outra maneira: para liberar ideias, é preciso nem somente infra-estruturas, mas também um certo grau de liberdade de expressão e de ação. É preciso os indivíduos serem um mínimo liberados de qualquer pressão política, econômica ou social. Neste assunto, a sociedade mauritana fica claramente marcada por limitações, por causas diversas: peso da moral religiosa, permanência do tribalisme, etc.

Outro passo indispensável: desconstruir os estereótipos (são muitos) sobre a África parada e sobre a juventude africana que não teria outra ambição do que imigrar na Europa. As mídias tradicionais e as redes sociais (ocidentais e africanas) têm um papel importante e deixar de apresentar estes países de maneira caricatural, falando só de conflitos, da corrupção, da ditadura e dos migrantes. As comunidades de empreendedores da inovação têm que continuar o trabalho de abertura e de reforço da rede com os seus homólogos em todo o planeta. Pois dum certa forma, um inovador que troca com um outro continente e que partilha o seu saber é um embaixador do seu país. Os jovens de MauriAndroïd entenderem isso, e eles multiplicam as iniciativas e intervenções no estrangeiro – eles já o faziam antes da criação da associação. Depois do Africa Androïd Challenge em 2012, patrocinado por Google e no qual ele tinha ganhado um smartphone, Moustapha Adi participou ao Samsung Androïd Challenge onde chegou em segundo lugar, concurso no qual ele fez a proposta duma aplicação permitindo às pessoas que desejam fazer doações de identificar rapidamente obras de caridade na sua zona.

O trabalho tem resultados: identificados por Google, os membros de MauriAndroïd tornaram-se membros do GDG Nouakchott (Google Developper Group Nouakchott), que oferece formação e assistência dum « coach » e que organiza um evento anual no dia 8 de Março dedicado aos direitos das mulheres, chamado « Women Take Makers ».

Hadina RimTIC, ou o emprededorismo ao serviço da inovação tecnológica

Num país como a Mauritânia onde a criação de emprego não segue as necessidades relativas à entrada no mercado do trabalho de milhares de jovens todos os anos (a Mauritânia é o único país da região a não ter iniciada a sua « transição demográfica »), quando não há trabalho, é preciso o criar. E porque o setor da inovação e das novas tecnologias não seria um setor favorável à criação de emprego? É nesta lógica que a associação Hadina RimTIC viu o dia, em Setembro de 2014, à volta de jovens formados apaixonados sobre novas tecnologias. Com ambição de participar ao desenvolvimento socio-económico do país e criar empregos pela via das NTIC.

Logo de Hadina RimTIC.

O nome da estrutura ilustra logo a sua vocação, pois Hadina significa « incubadora » em árabe. Hadina RimTIC tem por ambição de ser o primeiro incubador de projetos de emprendedorismo sobre as tecnologias da informação e da comunicação (TIC). O primeiro deste género em Mauritânia! E como MauriAndroïd, apoia-se nas competências e na motivação dos seus membros, formados aqui ou no estrangeiro, na região ou no Ocidente, em engenharia informática, em electrónico ou em telecomunicação.

Ainda jovem, a iniciativa já liderou uma actividade que teve visibilidade em Nouakchott, o MauriAPP Challenge, a primeira competição de aplicações móveis organizada em Mauritânia. O dia de « apresentação » dos competidores foi em Janeiro de 2015 e permitiu valorizar muitos jovens desenvolvedores e amadores de ferramentas digitais. Ainda um exemplo que vem melhorar a imagem da juventude mauritana. O sucesso foi tal que o nome do evento é agora mais conhecido pelos Mauritanos do que o nome da própria associação Hadina RimTIC que o levou. A segunda sessão foi organizado em 2016.

Mariem Kane, presidente de Hadina RimTIC.

Muitas aplicações propostas atestam duma real necessidade de responder, pela via das novas tecnologias, a problemas concretos do dia a dia: aplicações sobre o diabete, sobre a segurança nos táxis, para denunciar casos de corrupção, etc. Tudo não está perfeitamente operacional, e o uso concreto dessas aplicações móveis no dia a dia ainda questiona, no entanto as competências, o saber e a imaginação criadora dos jovens participantes foram colocados ao serviço da utilidade pública. Além disso, uma atividade como esta competição já representa, em si próprio, um stimulante potencial de criação de empregos, pois novas start-ups podem criar-se a partir das novas ideias de aplicações propostas. E os organizadores o entenderem, pois os participantes chegados em primeiros lugares são acompanhados na concretização do ferramenta que eles conceberam. É  então também uma oportunidade para eles de aprender e beneficiar dum espaço de troca, pela via de formações ao longo do desenvolvimento das suas aplicações, que são depois lançadas em App Stores.

Se o MauriAPP Challenge só constitui um início, o objetivo de Hadina RimTIC de constituir um incubadora de projetos TIC está na boa direção. Ainda mais porque um apoio da cooperação francesa favoreceu a sua realização. Sobretudo, convém sublinhar que o contexto geral é cada vez mais favorável às iniciativas de start-ups. Falando duma outra forma: o empreendedorismo parece ganhar em importância em Mauritânia (mesmo se no setor da inovação, é embrionário... mas é preciso ter um início). O ilustra a multiplicação dos eventos que o promovem. Os 5@7 da Jovem Câmara de Comércio de Mauritânia, o Start-up week-end, o Wikistage da Associação dos Mauritanos en grandes escolas, etc.: os encontros são agora regulares em Nouakchott, e a noção de empreendedorismo é lá central.

Problema: um tipo de ator, primordial, não segue esta dinâmica e não assume o seu papel. É o setor bancário, que tem a responsabilidade teórica de financiar a economia real e de apoiar os setores do futuro, assumindo riscos. E infelizmente, há pouca chance ver esta postura mudar num prazo curto.

Fablabs, recuperação, fornos solares, projeto Mulheres & TIC... InnovRIM e sua abordagem socio-ecológica

« Em Mauritânia, e até em países africanos, há jovens que têm ideias e competências. Não há muitas pessoas que acreditam em nós, de fato. Mas há muitas ideias em Mauritânia », testemunha Faty, jovem mauritana formada como engenheira em electrónico e telecomunicação na Universidade Gaston Berger em São-Luís do Sénégal. Somos sentados num café do centro de Nouakchott. O tráfico aumenta na hora do almoço, e a gente fala sobre inovação e desenvolvimento sustentável, a volta dum sumo fresco de manga.

Logo de InnovRIM.

Para essas comunidades de jovens que emergem em Mauritânia nas questões de inovação tecnológicas, aquela na qual Faty é membro, InnovRIM, constituiu-se há mais de três anos à volta duma dinâmica ambiciosa: a criação do primeiro fablab do país, « Sahel Fablab ». Um fablab constitui um laboratório de inovação, de reciclagem e de fabricação, sobretudo dotado duma impressora 3D ligada a uma ferramenta-mecânica, permitindo a concepção e a fabricação de objetos (próteses para pessoas deficientes, ferramentas, etc.) em plástico reciclado.

Ao mesmo tempo « novas tecnologias » e « desenvolvimento sustentável », a iniciativa apresenta ainda mais interesse que ela organiza-se numa lógica de abertura e de troca com outras comunidades no mundo – pois cada fablab apoia-se na rede mundial dos fablabs que oferece possibilidades de circulação e de partilha das ideias e dos saberes. Bem longe, enfim, da imagem de país fechado muitas vezes divulgada sobre esta república islâmica, povoada por um pouco menos de 4 milhões de habitantes e situado entre o oceano e o deserto. Hackathons, fablabs, incubadores... conceitos inovadores são importados e acrescentam-se à imaginação dinâmica de jovens que dispõem de competências ou que, da própria iniciativa, auto-formam-se para progredir.

Protótipo de computador de InnovRIM.

Em paralelo, com agora 15 membros ativos, a associação InnovRIM trabalha sobre muitos outros projetos de inovação: recuperação de material informático, concepção de fornos solares para lutar contra o consumo de madeira de aquecimento em meio rural, reabilitação de um computador defeituoso numa lata (que protege mais do pó e transportável facilmente), formações em informático ao benefícios de raparigas descolarizadas, desenvolvimento duma aplicação Smartphone sobre a saúde maternal, projeto de cartografia da cidade de Nouakchott no Open Street Map, etc.

Protótipo de forno solar.

O tipo de projetos levados por InnovRIM dá à associação uma dimensão social mas também ecológica. A inovação tecnológica está ao serviço do desenvolvimento sustentável (e de cada uma dos seus pilares: a eficiência econômica, a preservação do ambiente e a luta contra as desigualdades). Os fornos solares, por exemplo, têm uma utilidade plural: económica, pois só a sua aquisição representa um custo, não o seu uso; ambiental, pois eles permitem poupar madeira e concebem-se a partir de materiais recuperados (parábolas TV, cartão, etc.); e social, pois eles beneficiam em primeiro lugar a mulheres em meio rural. O dinamismo observado é ainda maior se consideramos o fato que, por enquanto, tudo ou quase tudo é feito com os meios limitados à disposição. E com boa vontade!

A inovação será reservada aos países do Norte? O contra-exemplo da Mauritânia

A inovação é uma porta para a evolução social e económica da Mauritânia. A recuperação de material electrónico ou a aplicação móvel na saúde por exemplo, têm uma utilidade social e ecológica.

Faty Kane, engenheira em electrónico e telecomunicação, membro da associação InnovRIM.

Do investimento na Pesquisa & Desenvolvimento à inovação frugal

Para entender o contexto que permite esta emergência de projetos de inovação num país considerado como muito atrasado neste setor, é importante colocar em perspetiva evoluções de hoje e de ontem. No século XX, enquanto as economias ocidentais estavam crescendo, as empresas norte-americanas e europeias escolherem institucionalizar as suas capacidades de inovação, criando departamentos dedicados à pesquisa e desenvolvimento (P&D) e normalizando os seus processos-empregos com visto uma comercialização dos produtos concebidos. Logo ai, a inovação era gerida como qualquer outra atividade. Esta « industrialização » do processo criativo teve durante um certo tempo resultados excelentes, e as performances das economias ocidentais durante a segunda metade do século XX é um bom testemunha desta realidade. Mas é menos adaptada à volatilidade do ambiente do século XXI e às limitações contemporâneas em termos de recursos, porque ela base-se em orçamentos importantes, com processos formatados e um acesso controlado ao saber.

Em Olhares sobre a Terra – As promessas da inovação sustentável (2014), Navi Radjou, professor à Universidade de Cambridge e especialistas da inovação e da liderança, identifica três principais razões a esta mudança de paradigmo. Em primeiro lugar, o fato que a abordagem ocidental da inovação é cara e come muitos recursos, pois as economias ocidentais convencerem-se que o sistema de inovação – tal como o sistema industrial – seria mais produtivo se ele mobiliza mais recursos. Resultado: se não dispõe de muitos meios financeiros e de recursos naturais, a dinâmica de inovação fica reduzida. Tudo foi concebido para produzir « mais com mais ». As empresas pagam muito para conceber produtos e serviços que ficam caros a elaborar a a fabricar – ainda mais num contexto de rarefacção dos recursos.

Acaba havendo uma diferença considerável entre os meios propostos e os resultados. As 1.000 empresas mundiais que investem mais na inovação – a maioria são grupos ocidentais – pagaram uns 603 bilhões de dólares em P&D somente no ano 2011. E para obter bem pouco à final, segundo um estudo do gabinete de consultoria em estratégia Booz & Compagny: os três setores que consagram mais fundos em P&D na Europa e nos Estados-Unidos – a informática/electrónico, a saúde e a automóvel – têm dificuldades a produzir um fluxo constante de inovações revolucionárias. Conclusão: provavelmente não há verdadeira correlação entre o dinheiro colocado em P&D e as performances em termos de concepção e de comercialização de produtos lucrativos. Falando duma outra forma, « a inovação não se cumpre », diga-nos Navi Radjou.

A inovação será reservada aos países do Norte? O contra-exemplo da Mauritânia

A inovação social nas novas tecnologias pode ser ao serviço do desenvolvimento em África, apoiando-se numa juventude dinâmica e ambiciosa. As NTIC ampliam consideravelmente as oportunidades económicas para milhões de pessoas.

Diarra Sylla, presidente de InnovRIM e criadora do Sahelfablab, primeiro projeto de fablab em Mauritânia.

O segundo limita da abordagem ocidental é a sua falta de flexibilidade. Tendo em conta os seus investimentos importantes na P&D, as empresas ocidentais teriam desenvolvidos um medo ao risco nos projetos de inovação. É para os gerir e os controlar que elas estabelecerem processos formatados. Podemos mencionar Six Sigma, uma marca da antiga empresa Motorola designando uma metodologia estruturada de management com objetivo uma melhoria da qualidade e da eficiência dos processos; ou ainda as análises tipo state gate, que constitui uma maneira de desenvolver novos produtos que descompõe o processo de inovação em 4 passos.

Na origem, a estruturação devia permitir à empresas de reduzir muito a incerteza e o risco de fracasso ao longo do processo, e assim de melhorar a previsibilidade dos projetos de P&D em termos de realização e de performance. Mas a abordagem é incompatível com o caráter muito evolutivo da economia globalizada do século XXI. Esses métodos, construídos à volta de processos estáveis e previsíveis, limitam qualquer possibilidade de mudança rápida. E as empresas devem satisfazer clientes cada vez mais exigentes e diversos com produtos e serviços personalizados, e ao mesmo tempo saber das evoluções tecnológicas.

Terceira limita: o modelo de inovação do Norte é elitista e exclusivo. Convencidos que o sucesso e o poder passam pelo controlo do acesso ao conhecimento, as empresas ocidentais criaram ao longo do século XX grandes laboratórios de P&D, incluindo os melhores científicos e engenheiros de alto nível. Elas também tornaram a inovação uma atividade elitista, próxima das sedes sociais dos grupos. Os outros empregados e as pessoas estrangeiras à empresa são proibidos dos departamentos de P&D que podem, eles, deixar a imaginação funcionar plenamente graças aos recursos que lhes são ofertes. A ideia sendo que, para dominar os mercados pela inovação, uma empresa deve apoiar-se numa alta tecnologia e nos melhores cérebros (pela via dos direitos de propriedade intelectual), os dois sendo acessíveis logo que temos meios financeiros! Este princípio valia provavelmente no início do tempo industrial, mas já não é tão relevante. Pensávamos então que uns científicos super-formados e com diplomas podiam « inventar », segundo os sistemas de P&D piramidais incapazes de abrir-se a ideias vindas do terreno.

E este elitismo não para lá, porque traduz-se igualmente pela produção de bens e de serviços muitos caros, que só com público com dinheiro em países ocidentais podem pagar. Um elitismo que mantém então fenômenos de marginalização de forma geral.

Pensar melhor a inovação para ela ser ao serviço das pessoas

O sistema que prevalece consume muito mas não anda mais como antes, por elitismo, rigidez e sobrecarga. Parece claramente em contradição com o espírito do nosso tempo em termos de inovação, que integrou que o saber não é um laço que se pode colocar em concorrência, mas ao contrário que se deve partilhar num âmbito flexível, e que a ousadia e a inteligência criadora devem vir de todos os lados.

Além disso, esta corrida à quantidade e à qualidade difere das necessidades de milhões de consumidores da classe média (ou que aspiram a estar na classe média), cujas capacidades de cumpra reduziram-se nestes últimos anos e que são cada vez mais sensíveis à dimensão « custo ». Quando a inovação pretende oferecer à novas gerações uns smartphones e carros, é preciso lembrar que, ao mesmo tempo, só nos Estados Unidos de América, quase 14 milhões de cidadãos ainda não têm acesso a um seguro cobrando a saúde (apesar dos progressos da reforma do sistema de protecção social ObamaCare), e que uns 68 milhões de pessoas lá – um número enorme mas desconhecido – não têm acesso a serviços bancários e serviços financeiros tradicionais. Igual na Europa, onde mesmo num país como a Alemanha, que não foi tanto afectado pela crise, a parte da classe média na população passou de 65% em 1997 para 58% em 2012. Em França, o salário médio recuou de 24% entre 2008 e 2012 quando o custo de vida progrediu de 30%.

Resultado, os consumidores tornam-se mais frugais no seu consumo. A equação econômica vem mudar as coisas, mais do que a conscientização ecológica, no entanto essas duas preocupações chegando ao mesmo tempo e acabando sendo complementares, muitas pessoas consideram cada vez mais que a cumpra que responda a uma justa necessidade é a mais relevante, num mundo com recursos limitados. Isto tudo prova que as empresas ocidentais têm que pensar de novo a sua abordagem para inovar mais depressa, melhor e mais barato, produzir bens acessíveis e sustentáveis adaptados às esperanças de consumidores eco-responsáveis. Enfim, a inovação deve responder a necessidades dos habitantes, e não os incentivar a um consumo que diz-se mais sofisticado mas que na verdade gasta mais e é inútil. Seria bom elas se inspirar dos homólogos nos países do Sul, não só porque estes, com falta de meios mas fortes de bom senso, conseguem às vezes realizar uma gestão relevante dos recursos, mas também porque eles souberam optimizar o tempo e a energia, limitados, ao longo do processo de inovação: em vez de fazer tudo sozinhos, eles baseiam-se em parceiros para muitas operações, o que permite poupar tempo e energias onde outros sabem fazer melhor.

A inovação será reservada aos países do Norte? O contra-exemplo da Mauritânia

As NTIC devem tomar um papel mais importante na educação dos jovens e na sua vida, graças às oportunidades numerosas ofertas pelas tecnologias com preço inferior.

Aziza Cheikhna, desenvolvedora, co-organizadora do MauriAPP Challenge e membro de Hadina RimTIC.

Observa-se em muitos países uma inovação cujo objetivo é em primeiro lugar de propor soluções funcionais e minimalistas, que respondem a necessidades mais fundamentais dos clientes e não aos desejos deles, não procuram seduzir os consumidores com tecnologias de última geração ou com funcionalidades específicas. Além disso, e em oposição com o elitismo da inovação ocidental, os inovadores frugais conseguem atingir um público com rende fraca graças a um modelo de preços flexível.

Em Agosto de 2015, uma classificação publicada no site Internet de Virgin, a empresa do bilionário empreendedor Richard Brandson, colocava o Uganda em primeiro posição dos países « empreendedores » – ou seja, contando a maior percentagem de adultos na população que dirigem ou co-dirigem uma empresa e dá salários num tempo de três a 42 meses. Camarões chegava em quarto lugar. Claro, é preciso tomar cuidado com esse tipo de classificação, a pobreza e a informalidade sendo também motores do empreendedorismo (em breve: quando não há trabalho, é preciso o criar para sobreviver), mas constitue pelos menos um indicador interessante sobre o espírito de iniciativa que existe nesses países e que constitue um potencial em si próprio.

Acrescentamos que, nesses últimos anos, Internet vei dar uma outra perspetiva ao acesso à informação. Antes, o conhecimento era elitista. Hoje, tornou-se um bem comum. Podemos aprender sozinho atrás dum computador sem gastar mais do que o preço da conexão Internet, graças a ferramentas como Youtube, ou também as formações online abertas a todos – como os MOOC (do inglês Massive Open Online Course) que têm um sucesso importante nestes 5 últimos anos. Os habitantes dos países « do Sud », e em primeiro lugar os jovens, entenderem esta oportunidade e criam todos os dias projetos de empreendedorismo. Falta ainda a consolidar muitas coisas para confirmar os progressos neste setor, e inscrever essas « pequenas revoluções » em estratégias coerentes de longo termo para que elas sejam criadores de empregos e ajudar a melhorar a vida.u

E se tudo passa-se bem, marcamos encontro daqui alguns anos para dar uma volta entre as empresas e espaços incubadores da Sahara Valley!

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