Na Tunísia, quando a descoberta do patrimônio se faz de bicicleta: a iniciativa do Lemon Tour em Cartago
A Revolução de 2011 na Tunísia abriu novas perspectivas, no entanto o país sofreu, desde então, de muitos problemas políticos, sociais e de segurança. O turismo, que criava emprego a pelo menos en 400 000 pessoas em 2010, foi fortemente afetado, e foi necessário esperar até recentemente para o país conhecer de novo o nível de visitas conhecido antes de 2011. Mas foi durante muito tempo moderada (e permanece um grande desafio) a valorização do patrimônio tunisiano, nos quais o sítio antigo de Cartago, na periferia nordeste de Tunes. Os poderes públicos preferiram até agora incentivar o turismo de massa com objetivo de encher as praias cada verão, versão Club Med. Resultado: os primeiros a ser excluído do maravilhoso patrimônio desse país de 11,5 milhões de habitantes localizado no norte do continente africano, são os Tunisianos e as Tunisianas.
O país também está atrasado em termos de rede de transporte, um atraso que os eventos de 2011 não corrigiu. Os modos de transporte limitam-se quase exclusivamente ao carro. Apenas umas linhas ferroviária, no interior do país e nos arredores de Tunes, propõem uma modesta alternativa. O uso de modos suaves (ou leves) como o ciclismo permanecem muito marginais, e quase nunca são objetos de iniciativas estratégicas por parte das autoridades, nem de planejamentos ao nível das obras de urbanização.
É para tentar responder a muitos desses desafios que o projeto Le Lemon Tour nasceu. A empresa do mesmo nome é o fruto de uma cooperação entre Célia Corneil, o seu companheiro Nicolas Planchenault, ambas Franceses, e Markus Breitweg, um alemão que encontraram-se em Tunes em 2017 – os três tinham 31 anos na altura da entrevista do presente artigo. O conceito é simples: é um serviço de aluguel e de visitas com bicicletas para descobrir os sítios dos arredores de Tunes, em particular o da antiga Cartago. O objetivo é duplo: reabilitar a bicicleta em Tunes, e valorizar o patrimônio (cultural, arquitetônico, histórico), a destinação dos Tunisianos como dos estrangeiros. O cicloturismo é portanto o coração da iniciativa. Concentrado inicialmente sobre Cartago e o seu sítio arqueológico, o projeto propõe agora de descobrir outros lugares no Grande Tunes. Com cerca de sessenta bicicletas no final de 2019: bicicletes de montanha (VTT em francês), bicicletas de cidade, bicicletas infantis, Le Lemon Tour é baseado no desenvolvimento sustentável e na inovação social, ao serviço do humano e do meio ambiente.
Em 1 de Junho de 2019, O acendedor de lampiões (O AdL) entrevistou Célia Corneil, associada e cofundadora do Lemon Tour. O objetivo: entender como foi construído esse projeto original que pretende inscrever-se na dinâmica da Economia Social e Solidária (ESS), quais são as suas perspectivas de desenvolvimento, e as lições que podem hoje em dia formular os iniciadores do projeto sobre o empreendedorismo na Tunísia, na relação das Tunisianas e dos Tunisianos com o patrimônio nacional, e sobre a prática da bicicleta no Grande Tunes.
Célia Corneil, graduada de um Master Estratégias Territoriais e Urbanas no Instituto de Estudos Políticos (IEP) de Paris, depois de uma Licença especializada no Médio-Oriente e no Mediterrâneo, trabalhou durante seis anos no setor público em França onde ela especializou-se na planificação e na realização de projetos urbanos e de mobilidade sustentável. Apaixonada pelas viagens e pelas culturas árabes, ela criou, desde a sua chegada na Tunísia em 2017, com o seu companheiro Nicolas Planchenault (engenheiro, especialista em energia solar e em mobilidade elétrica), o escritório de estudos e de conselho Kandeel. Essa empresa é especializada nas mobilidades sustentáveis nas cidades tunisianas, nas energias renováveis e no acompanhamento ao desenvolvimento de projetos urbanos locais. Em 2018, eles criaram também Le Lemon Tour, uma empresa solidária de descoberta à bicicleta do patrimônio tunisiano, que ela nos apresenta nesta entrevista.
Nas ruinas do sítio antigo de Cartago.
O acendedor de lampiões: Você pode apresentar o projeto e explicar como ele nasceu?
Quando chegamos com Nicolas, há dois anos, como qualquer turista, visitamos o sítio arqueológico de Cartago. O Fizemos a pé e achamos que era muito longo. Naquele momento, emitimos a ideia de alugar bicicletas para visitar o sítio, um pouco brincando, mas porque tínhamos acabado de lançar o nosso gabinete de estudos, Kandeel, não queríamos nos lançar em muitas coisas ao mesmo tempo. Deixamos isso de lado, mas como Kandeel tinha dificuldades, e sobretudo porque tínhamos dificuldade a ver os nossos empregos reconhecidos – são muito especializados e às vezes inexistentes na Tunísia –, a ideia surgiu de novo. Pensamos: « Vamos lá, lançamos esse serviço de visitas de bicicleta, porque também será uma vitrina para nós, para mostrar como se pode fazer um projeto com pouca coisa, sem investir milhares, mas que podem funcionar e ter um impacto positivo localmente. » Essa era realmente a ideia de base. Conversamos com Markus, que estava interessado.
Lançar o projeto, queria dizer dar-lhe corpo no plano jurídico. E portanto criar uma empresa. Isso, foi laborioso. Oferecemos um serviço que era inexistente na Tunísia, portanto não éramos bem identificado. O ministério dos Transportes nos mandou no ministério do Comércio, o qual nos mandou no ministério do Turismo... Fizemos a volta de todos os ministérios, e a final contornamos um pouco um problema. Tomamos alguns meses – não é muito na Tunísia – para criar uma empresa. Não é dramático, mas tínhamos [a vontade] de ser rápidos, muito ágeis num pequeno projeto, muito eficientes... Portanto naquela altura, pareceu-nos um longo tempo, esses três meses. Ap mesmo tempo procurávamos um local. Achamos que tínhamos que estar perto do sítio arqueológico, pois a nossa primeira ideia era de o fazer visitar de bicicleta. Então visitamos na própria cidade de Cartago. É uma cidade muito residencial, não há escritório. E nos decidimos bastante rapidamente. Precisávamos de espaço, para guardar as bicicletas. […]
Nos meses que seguiram, a ideia do projeto amadureceu. De Setembro a Dezembro de 2017, encontramos pessoas, sejam do setor do turismo ou do setor do ciclismo... Encontramos em particular Adel Beznine, que queria lançar bicicleta em livre-serviço no bairro [das Margens] do Lago [extensão urbana de Tunes, localizado entre o centro e o norte da capital], ele nos encorajou. Em Dezembro de 2017, já sabíamos que íamos a lançar uma campanha de crowdfunding e teríamos que procurar um local no começo de 2018. Fizemos uma primeira reunião com voluntários, futuros estagiários, em 14 de Fevereiro de 2018. Depois recebemos as nossas primeiras bicicletas. Recebemos dez para começar, primeiro com Decathlon, que acabava de abrir na Tunísia. Todos os Tunisianos nos diziam que tínhamos absolutamente que propor bicicletas de montanha [Vélo Tout Terrain, ou VTT em francês], então pegamos dez bicicletas de montanha. Aliás, não é o que se procura! Eles servem na mesma, mas o nosso público, não são ciclistas confirmados, enquanto a bicicleta de montanha, é feito para alguém à vontade. Portanto, foi muito bem começar com dez bicicletas, porque percebemos que não era isso que precisávamos. A entrega das dez bicicletas, era em Março. Março, Abril e Maio de 2018, abrimos todos os finais de semana com Nicolas, no modo de publicar algo na nossa página Facebook, dizendo: « Somos abertos, venha visitar, é grátis! »
Foi de graça um mês e meio ou dois, e as pessoas foram solicitadas a preencher pequenos questionários: « Do que você gostou? O que você achou complicado? Etc. » Também houve muitas trocas com os jovens que eram motivados para vir connosco. O primeiro jovem que foi motivado chamava-se Aziz. Esse, morava em La Goulette, um bairro perto. Era fã de ciclismo, e fã de fazer descobrir a Tunísia. Ele nos contactou e nos disse: « Estou com vocês! » […] Depois, tivemos uma estagiária, mas que não ficou; ela era mais interessada pelo lado inovador da ideia, mas como ela não sabia andar de bicicleta, ela não tocava nas bicicletas […].
Naquela altura, ainda tínhamos problemas com os nossos estatutos, não tínhamos ainda existência legal, e ainda mais, para a criação de empresa […], os nossos capitais estavam no exterior, então houve toda uma mecânica a por a andar… Mas tínhamos um pequeno embrião de equipa. E tivemos um primeiro contacto com Zied Gaaloul, um guia que nos tinha contactado dizendo que tinha achado a nossa ideia excelente, e com o qual ainda trabalhamos. Esse, era realmente o lado « descoberta alternativa » que o interessava. […]
No início de 2018, visitamos uma fábrica de bicicletas sobre a qual fomos informados, Eurocycles, localizado em Sousse [uma cidade portuária no Leste da Tunísia]. […] Eles nos disseram: « Nós, é 50 bicicletas no mínimo ». Então percebemos que devíamos comprar 50 bicicletas, o que não tínhamos realmente previsto. Compramos 40 bicicletas para adultos, e 10 bicicletas para crianças [que adicionavam-se às 10 bicicletas de montanha já adquiridas]. Aquelas meses passaram-se também a fazer o design das bicicletas, a encomenda, etc. Tudo isso não se faz tão facilmente. E estávamos com pressa, queríamos ter bicicletas para a temporada alta, depois do Ramadã, no final de Junho, o que conseguimos. Mantivemos os nossos prazos.
O AdL: De onde vem o nome « Lemon Tour »?
Short long story! Estávamos procurando um nome. Os « Hannibal », « Didon » [Nome de uma princesa fenícia, lendária fundadora e primeira rainha de Cartago], « Cartago » já eram usados. Naquela altura, eu li muito sobre a era romana para realizar os guias de visita do sítio arqueológico. Aprendi que na época romana, as paisagens na Tunísia eram bem diferentes: muito poucas frutas (apenas romãs, uvas, figos), nenhum cítrico... Exceto um tipo de limão, o cidra [cédrat em francês]. É isso ai! Achamos que o limão, era cheio de energia, e representava bem a Tunísia, onde se bebe limões o tempo todo.
O AdL: A que estado está agora o projeto? Você pode apresentar um pouco a equipa atual?
Faz quase dois anos que foi lançado. Sobre o conceito mesmo, evoluímos muito. Porque logo no verão, quando tivemos as nossas 50 bicicletas,percebemos que o nosso público é por 90% tunisiano, e em grande maioria mulheres… Pensávamos que dificilmente conseguiríamos ter esse público, que teríamos que ir as buscar, mas não. Elas é que vêm. De uma lado, porque as mulheres são mais enérgicas na Tunísia e mexem-se mais – mesmo quando os homens vêm, eles vêm com sua mulher ou uma amiga –, e segundo, porque os homens podem fazer ciclismo sozinhos sem problema, enquanto as mulheres, para andar de bicicleta sozinhas, não estão sempre à vontade. Portanto para elas, era realmente a oportunidade de andar de bicicleta […]. Nos nossos frequentadores, quase só temos mulheres, entre 25 e 40 anos de idade. […]
O que percebemos no início do verão de 2018, é que fazer caminhadas de forma autónoma, em solo, não era o que os Tunisianos procuravam. Eles, o que querem, é fazer caminhadas em grupo. Dai, começamos a organizar cada semana vários eventos, onde fazemos coisas muito simples: uma saída de bicicleta até Sidi Bou Saïd [cidade localizada a 20 km de Tunes], até La Goulette [município a 10 km da capital, onde está situado o principal porto de Tunes], e uns eventos um pouco mais culturais, com visita guiada. Foi um pouco laborioso para achar o nosso público, e em Setembro de 2018 recrutamos para estruturar a nossa equipa, pois para nós, já era um trabalho enorme. Estávamos sete dias sobre sete no Lemon Tour, a gerenciar reservas, etc. É uma época em que estávamos de joelhos. Era realmente cansativo.
Então ai recrutamos pessoas. E especialmente uma gerente de agência, mas [que] recebeu rapidamente uma resposta para uma bolsa de doutorado em França, por isso ela deixou a equipa. E tínhamos recebido uma carta de motivação – uma pérola! – de um moço, Zied Hannachi: um fã de bicicleta, um fã de patrimônio tunisiano… […] Era acompanhador nos passeios, e depois fez permanências no final de semana. Então depois, imediatamente pensamos nele, e é o nosso gerente de agência ainda hoje. Chegaram [depois] Hamdi, o nosso estagiário, e Elhem, uma moça que faz as permanências no final de semana, depois de ter sido acompanhadora no início. […] Hoje, temos uma equipa estruturada. Dois permanentes, mais um estagiário, permanente também. Acompanhadores, temos seis, que vêm todos os finais de semana, mais ainda nas férias. E temos dois guias com quem trabalhamos todo o tempo, para visitas guiadas – um produto mais destinado para estrangeiros.
O AdL: A equipa tunisiana, portanto, apropriou-se o projeto?
Esse era o nosso objetivo. Não queríamos que fosse a nossa atividade principal, e que passamos todo o nosso tempo alugando bicicletas. Gostamos do projeto, […] mas queríamos que ele se tornasse um projeto tunisiano, não o projeto de Markus, Nicolas e Célia.
Os membros da equipa do Lemon Tour, no verão de 2019: Aziz, Hanen, Zied, Elhem e Marouen. (Crédito fotografia © Le Lemon Tour)
O AdL: Quais são os percursos propostos por Le Lemon Tour?
Temos três percursos, cada um tomando um meio-dia. 1) O sítio arqueológico de Cartago; 2) La Goulette e o seu porto; 3) Sidi Bou Saïd e La Marsa. São os três percursos principais desde o nosso local.
Adicionamos um evento, que fazemos regularmente: uma saída num dia em Tébourba. […] Jihed Bitri, um dos nossos parceiros, faz visitar a sua fazenda em permacultura. Na hora do almoço, há uma refeição com os produtos da sua fazenda, precedida de um passeio de bicicleta, seja em Tébourba e em El Batan [duas cidades que têm uma história ligada aos Mouros retornados de Andaluzia a partir do século XV], seja no campo. [Pode-se notar que] Tébourba, é uma visita que é muito feita ou por categorias socioprofessionais superiores (CSP + em francês) tunisianos, ou por expatriados. Pois eles não têm acesso a isso se não for por nós.
Organizamos também teambuildings. Nós nos adaptamos aos nossos clientes, ao desejos deles, alguns querendo ofertas mais elaboradas, com remo ou ioga, por exemplo. Então teambuilding, fazemos um pouco, temos os nossos clientes regulares, como Teleperformance, um dos maiores call centers do Magrebe, [eles] já vieram três vezes! Gostaríamos ter mais, é bom os grupos que chegam com 50 pessoas!
O AdL: Desde o início, você encontrou alguma dificuldade, e que lições aprendeu?
No começo, uma dificuldade era que tínhamos um olhar europeu. Pensávamos que íamos a fazer voltas do sítio arqueológicos em autonomia. Na realidade, não era o que o público tunisiana estava esperando. Eles, o que esperavam, era aproveitar do ciclismo […], e o fazer em grupo. Então, realmente reavaliamos a nossa oferta para esse público tunisiano, guardando ao mesmo tempo a oferta de visita guiada para um público europeu. E essa mudança de olhar, é muito graças à nossa equipa tunisiana, que nos dizia que tínhamos que fazer eventos, coisas « fixes ». Foi assim que fizemos eventos que combinavam um outro desporte, como o Bike & Paddle, a bicicleta-ioga...
Hoje, conseguimos ser visíveis para a clientela tunisiana. Somos bem identificados no Grande Tunes. Por outro lado, temos uma parte mínima dos turistas estrangeiros, nos quais contamos para equilibrar o balanço financeiro, entre uma oferta barata aos Tunisianos e uma oferta para uma clientela estrangeira que tem mais dinheiro […].
Outra dificuldade, grande: as reparações. Por ter uma clientela em maioria composta de iniciantes, eles quebram muito as bicicletas. Eles caem, não sabem usar as mudanças, e então quebram partes importantes como os desviadores, que normalmente não são quebrados numa bicicleta. A nossa equipa aprendeu muito sobre a reparação, mesmo se eles não ousam fazer muito quando Nicolas não está lá. […] É uma grande dificuldade, nos finais de semana nos quais há muita gente. […] Foi necessário realmente um aumento das habilidades sobre tudo isso. Está melhor, mas leva muito tempo, e não pensávamos que teríamos tantas peças quebradas.
O AdL: Como, em geral, os Tunisianos acolheram o projeto, especialmente na sua dimensão patrimonial?
Ultra-positivamente. Em geral, é muito positivo. […] Tinha sido um pouco estranho, porque é [às vezes] um patrimônio que eles mesmos não conhecem. Isso, eles adoram. Há uma visita na qual eu tinha contactado os descendentes dos Beys [Título turco designando chefes locais na época otomana, tornados autônomos no século XVIII sob a dinastia Husseinita que transformou gradualmente o regime dos Beys em verdadeira monarquia], para que eles nos abrem as suas casas. E isso foi muito ótimo. Entramos nesses antigos palácios, e ai, há toda uma história. Após a independência, Habib Bourguiba [chefe do Estado entre 1957 e 1987] não queria ver a monarquia voltar, e então nacionalizou muito os bens dos Beys […]. Foram ou nacionalizados, ou deixados a cair em ruínas, pois era importante não recordar esse passado monárquico. Além disso, houve uma série de TV sobre os Beys na Tunísia, e eu acho que isso ajudou a renovar esse fervor para os Beys. […]
Portanto, as pessoas adoram descobrir essa história. E mesmo em La Goulette, os Tunisianos adoram. Entender essas raízes maltesas, italianas, essa fusão que houve na época! Eles não sabem, e penso que os Tunisianos são os que mais apreciam esses passeios, porque descobrem muito sobre a Tunísia. E é uma história bastante positiva, portanto isso muda também um pouco das notícias habituais. […]
O AdL: Quais lições você pode formular da experiência do Lemon Tour sobre a relação dos Tunisianos com o seu patrimônio?
Há um forte nacionalismo. Eles se orgulham disso, basicamente, mas quando você os faz descobrir, ficam ainda mais orgulhosos. Mas há uma incrível falta de conhecimento. Depois, tenho certeza de que na França você encontrará a mesma coisa, mas é verdade que, quando se visita o sítio arqueológico [de Cartago] com um público tunisiano, eles têm todos a sensação de o conhecer porque já o visitaram quando tinham dez anos de idade, com a escola, mas de fato eles não o conhecem. […]
Não há nada de pedagógico para tornar esse patrimônio acessível. O sítio arqueológico, ainda está bom, mas La Marsa, Sidi Bou Saïd e La Goulette, […] era complicado achar fontes fiáveis para ter coisas interessantes sobre a história e o patrimônio local.
O AdL: E quais lições você pode formular sobre a relação dos Tunisianos com os modos suaves de transporte, em particular com a bicicleta?
É particular, no Grande Tunes: lá, todo o mundo viaja de carro. Se você não tem carro, tem muitos problemas para se mover, porque os transporte público é muito fraco ou ineficiente. Como resultado, a bicicleta é vista como o modo de transporte dos pobres. E de fato, no Grande Tunes, aqueles que andam de bicicleta, são homens, com uma certa idade, que não têm muitos meios, em bicicletas ruins, pneus furados e enferrujados. O que está surgindo – mas não é só connosco, outras associação participam disso –, é que a bicicleta [parece cada vez mais] fixe, jovem, etc. Continua sendo uma ultra-minoria. […]
E a bicicleta ainda é considerada perigosa. Então você não pode usá-la. É bicicleta-lazer, mas não bicicleta-mobilidade quotidiana. Portanto oferecer às pessoas de fazer bicicleta também mostra que elas podem se mover de bicicleta. E isso, é importante, de dizer para eles: « Quando vocês dirige, vão nas estradas […] mais rápidas, mas quando andam de bicicleta, não seguem o mesmo caminho. […] Vocês pensam conhecer Cartago, mas se pegam sempre a mesma estrada onde se anda a 70 km por hora, ao lado há um bairro residencial onde as pessoas andam a 30 km por hora, podem ir lá com uma criança sem problema. » Há toda essa pedagogia para fazer em torno do uso da bicicleta. […]
Existe também aquela ideia que andas de bicicleta quando és criança, de pois paras. Se é um adulto, é um pobre. E são mais homens. Mas não é o caso em toda a Tunísia: no Sul da Tunísia, em Djerba em particular, e no Cabo Bon [península no Nordeste da Tunísia], muitas mulheres andam de bicicleta. Porque lá, há muito menos carros, as pessoas são ainda mais pobres, e as mulheres trabalham muito nos campos, naquela região.
O AdL: Além do Lemon Tour, você tem outras iniciativas para promover a prática do ciclismo?
É sempre ligado ao Lemon Tour. É preciso ter a frota de bicicletas, então é com Le Lemon Tour. Por exemplo, encontrei uma eleita de uma cidade do Noroeste de Tunes, La Manouba, onde fomos fazer um evento bicicleta-escola um domingo. Eles emprestaram um caminhão para transportar as bicicletas, e as alugamos por nada. […] Fomos também em Bizerte, uma cidade importante no Norte da Tunísia. Lá, participamos ao Fórum do Mar [primeira edição organizada em Outubro de 2018 pelo Instituto tunisiano dos estudos estratégicos]; aproveitamos de um evento para fazer descobrir o ciclismo. Estávamos no porto, […] oferecendo bicicletas para alugar, [com base um] percurso […]. O que percebemos, é que mesmo que os nossos preços pareçam baixos nos subúrbios norte, de fato eles são sobre-elevados para o nível de vida tunisiano; e não podíamos propor esses preços de locação quando estávamos fora de Tunes. Dito de uma outra forma, ir fora de Tunes e da periferia norte, só poderemos o fazer se recebemos subvenções.
[…] A gente faz também uma escola de bicicleta. Queríamos fazer duas fórmulas, mas por enquanto só fazemos uma. Propomos às pessoas que não sabem andar de bicicleta que passem uma hora com os nossos acompanhadores, que eram coach desportivos antes. Sejam adultos ou crianças. Funciona bastante bem, as pessoas são satisfeitas. […] Queríamos também fazé-lo em grupo, em La Marsa [cidade localizada a 18 km no Nordeste de Tunes], num parque, mas é um pouco mais complicado; é preciso autorizações, e demora.
Exemplos de passeios de bicicleta no âmbito do Lemon Tour. (Crédito fotografia © Le Lemon Tour)
O AdL: No projeto, não se trata simplesmente de fazer lucro. Você queria incluí-lo numa lógica ESS (Economia Social e Solidária). Qual é o balanço? E en geral na Tunísia, em que estado está a ESS?
Vou começar com isso. Porque hoje em dia, não existe um estatuto especial para as empresas da ESS na Tunísia. É objeto de uma pressão do movimento da ESS na Tunísia, mas ainda não é regulamentado. Também é uma problemática para nós, para pedir fundos: [temos] a nossa sinceridade, mas de fato, poderíamos ser os piores capitalistas, que estão explorando os seus salariados. Portanto nos impusemos regras, tanto nos nossos estatutos, no nosso pacto de associados, Markus, Nicolas e eu, como nos fatos, impusemo-las também no dia a dia. Para nós, a ESS, já é um objetivo que temos com Le Lemon Tour, de atingir um público tunisiano [apesar dos desafios tarifários]. Primeiro porque fazer outra coisa não nos interessava. E depois porque é isso, o objetivo do Lemon Tour.
Depois, a ESS, é também diariamente na gestão da equipa. É realmente uma estrutura horizontal. As pessoas com quem trabalhamos participam em todas as decisões. Por exemplo, se tomamos a decisão de comprar bicicletas, […] conversamos muito entre nós, explicamos a eles tudo o que isso implica financeiramente. […] Ainda são ferramentas um pouco difíceis a ler para eles, […] mas eles gostam de receber esse tipo de informações, e vão logo nos dar um retorno, não há constrangimento nisso.
Depois, há todo o aspecto ambiental. Instalamos um filtro para beber a água da torneira, temos um composto, fazemos a triagem do lixo […]. Mas segundo eu, o maior sucesso do Lemon Tour, é a equipa. E isso é que tem sido o mais rico nessa história.
O AdL: Você falou da pressão do movimento ESS. Na Tunísia, será que existe um ator formando as empresas à ESS?
Posso mencionar o LAB’ESS [Laboratório da Economia Social e Solidário]. […] É uma incubadora da ESS, com sede em Tunes. Ele depende do grupo SOS em França, mas é uma estrutura tunisiana. Com eles, somos realmente em laços muito estreitos. Lá, eles acabaram de iniciar uma plataforma dos atores da ESS na Tunísia, chamada Chabaka. Nicolas participou ao desenvolvimento da plataforma, participou a todas as reuniões de brainstorming sobre isso… Em resumo, estamos nessa plataforma. Agora, somos um ator integrado a essa rede da ESS.
O AdL: Quais são as perspectivas do Lemon Tour? O que veremos se formos ao Lemon Tour daqui um ano?
O grande projeto que estamos finalizando, é uma nova encomenda de bicicletas. Desta vez, vamos comprar bicicletas com assistência eléctrica e bicicletas dobráveis. Bicicletas com assistência eléctrica, porque percebemos que, simplesmente, é algo inexistente no mercado tunisiano. Portanto queremos testá-lo com os Tunisianos. E pensamos que para os clientes estrangeiros, isso mudará a situação [para atrai-la].
Bicicletas dobráveis, porque as bicicletas atuais são de 28 polegadas, um tamanho padrão na Europa, e para um público acostumado a andar a bicicleta. Contudo, as bicicletas dobráveis são baixos. Isso vai nos permitir fortalecer a frota para a bicicleta-escola, para responder aos adolescentes, ou a pessoas que não são muito grandes ou à vontade de bicicleta. […] Em Setembro [de 2019] normalmente, teremos a nossa encomenda. Markus e Zied foram à fábrica esta semana, e fizeram encomenda.
A mais longo prazo, gostaríamos nos implementar em La Marsa. Em Cartago, estamos num lugar muito residencial, as pessoas não chegam por acaso. [Contudo] percebemos, quando fizemos saídas desde La Marsa, onde estávamos no espaço público, visível, que as pessoas vinham nos encontrar espontaneamente. Eles pegam uma bicicleta e fazem uma volta connosco. […] Isso junta um dos nossos objetivos, que é colocar a bicicleta nas estradas tunisianas: na Tunísia, falta bicicletas. Gostaríamos renovar a nossa frota de bicicletas, e então as bicicletas que usamos por um ou dois anos, as revendemos, nesta [futura] loja em La Marsa… Também temos uma oficina de reparação para as pessoas que querem o concertar, fazemos [ainda raramente demais] aluguéis de longo prazo, etc. É um pouco um challenge financeiro porque La Marsa é caro, mas pensamos que teremos muito mais visibilidade, e será um passo superior. […] Seria por volta de Março-Abril de 2020, para começar depois do Ramadã […].
O AdL: Última pergunta, quais conselhos estratégicos você daria para alguém que deseja iniciar um projeto semelhante?
Especialmente na Tunísia, eu diria para não ter ambições grandes demais. Porque muitas vezes, quando se fala com Tunisianos que têm um projeto, é astronômico. […] E eles não percebem que às vezes, não precisas de um investimento maluco. Com um pequeno investimento, começas, testas, olhas o que funciona, o que não funciona... Assim no pior dos casos, você cai, mas não cai de muito alto. Então testar, ir lá, ver se a ideia vale a pena ou não... Não ficar em quarto durante dez anos, claro.
E confiar também. Isso é difícil, porque quando você cria o seu bebê, não quer necessariamente o partilhar, mas é absolutamente necessário, porque caso contrário não deixa de ficar o projeto de fulano, e não um projeto que é levado por muitas pessoas. E isso é uma força, na verdade. Nós hoje, as pessoas nem sabem que há nós três por trás, o que veem é a equipa do Lemon Tour. E eles é que transmitem os nossos valores hoje, aos clientes. E aliás, não poderíamos nos permitir de assumir sozinhos a carga toda. Primeiro porque não somos tunisianos, não vamos falar em tunisiano. E não temos a energia para fazer isso. Portanto quanto mais somos para espalhar a nossa mensagem, melhor.
[…] Eu também diria certamente de escutar os conselhos, mes sem seguir demais as pessoas. Porque [por exemplo aqui], os Tunisianos realmente têm essa sensação que nada é possível ne Tunísia. O que não é verdade, de fato. Podes fazer coisas na Tunísia. É só preciso mexer-se, mas que nem em qualquer lugar. Eles têm tanto o sentimento que estão diante de uma administração incompreensível e kafkaesca, que acham que é um país onde não se pode avançar. Como não tínhamos esta visão, tentamos. Finalmente, é também um país da habilidade, e isso eles o esquecem. Sempre se encontra uma solução. […] As pessoas pensaram que éramos loucos. Nós, pensamos: « No pior dos casos, revendemos as bicicletas, e pronto! » Portanto pegar o que a gente lhe diga com cuidado.
Escutar, claro, pois se não tínhamos escutado as pessoas, não faríamos Le Lemon Tour hoje. E ter uma equipa local. Não ficar entre estrangeiros – bem, depende o que fazes, claro –, porque até para ti, é isso que será realmente gratificante.
Encontrem de novo Le Lemon Tour no seu site Internet: http://www.lelemontour.com/fr/
No Facebook: https://fr-fr.facebook.com/Lelemontour/
No Instagram: https://www.instagram.com/le.lemon.tour/