Quando as mulheres tomam a palavra em vez de a pedir: a experiência do coletivo « Vozes das mulheres » na Mauritânia
Jogo entre as seleções femininas de futebola de Djibouti et de Mauritânia, no estádio Cheikha Boïdiya, em 30 de Julho de 2019.
O jogo acabou, cada equipa saia do terreno e o público deixa os bancos do estádio Cheikha Boïdiya. Em 30 de Julho de 2019 em Nouakchott, foi organizado o primeiro jogo oficial da seleção nacional feminina de football mauritana. Apesar das críticas morais ou religiosas que antecederem o jogo, e apesar do resultado (3 a 0 em favor de Djibouti), o ambiente foi bom, em particular do lado das torcedores que vieram dos bairros periféricos de Nouakchott para apoiar as jogadores. O difícil progresso do desporto feminino, em República islâmica de Mauritânia, ilustra o peso das representações sociais na sociedade.
« A voz da mulher na Mauritânia é bastante insignificante. Embora nós, mulheres, somos uma força, mas não ao nosso serviço, mas ao serviço do outro sexo e da sociedade patriarcal. Não há aqui vozes que defendem os direitos das mulheres ou que colocam as questões das mulheres ». É nesses termos que Mekfoule Ahmed, ativista feminista, nos descreve a condição das mulheres mauritanas. Uma condição que motivou, desde quase cinco anos, a emergência de um coletivo chamado « Vozes das mulheres » (Voix des femmes em francês, أصوات النساء em árabe) e cujo objetivo é precisamente de dar a voz às mulheres mauritanas, desenvolvendo espaços de debate que lhes sejam reservados nos bairros. Desde 2018, o movimento procurou progredir desenvolvendo novos tipos de atividades, viradas na advocacia pela arte ou nas tecnologias da comunicação. Olhar sobre essa abordagem militante e discreta que procura mudar as mentalidades.
Na Mauritânia, a condição da mulher é marcada por uma série de proibições e de pressões sociais resultantes do peso das tradições, que impedem seu desenvolvimento: casamentos precoces, restrições morais e de vestuário, condenação do desporte e dos lazeres femininos, violências e assédio sexual diários (sejam na rua ou na casa), prática da excisão, etc. Mas essa situação ainda é pouca mencionada fora dos círculos ativistas ou dos tempos de trabalho organizados por tal ou tal ONG ou agência da ONU em hotéis de luxo ou outras salas de conferência na capital. Os espaços de expressão e de debate entre mulheres são raros (ainda mais na periferia da capital ou em zona rural) – e isso apesar de uma visão às vezes idealizada da condição feminina, que sugeriria que as mulheres mauritanas são mimadas, que nem rainhas sobre-poderosas no seu lar (Entre submissão e manipulação social: qual é a condição das mulheres na Mauritânia?).
Mekfoule Ahmed, membro do coletivo Vozes das mulheres desde os seus inícios, nos explica: « A condição das mulheres é uma questão mundial. Mas na Mauritânia, as pessoas pensam que a mulher mauritana, e sobretudo a mulher moura, é em boas condições. Mas não, excepto a mulher moura burguesa. E sabemos que em toda parte, as condições da burguesia são diferentes e não constituem a regra. O sistema social impõe um funcionamento patriarcal sobre as mulheres e sobre sua vida. Nós sofremos violações [estupros, em português do Brasil], violências, discriminações ». Ausentes dos centros de decisão, dos espaços de lazeres, dos cafés, das mesquitas, etc., as mulheres não são convidadas a exprimir-se, nem sobre sua vida nem sobre questões ligadas à sociedade.
التحدي الذي يواجهنا هو تعبئة النساء حول القضايا المشتركة ، لا يمكن لأي مرأة الفوز في المعركة وحدها. المعركة هي عمل جماعي!
أصوات النساء هي منصة للنساء الموريتانيات. نناقش كل الأسئلة. نعمل معًا على وضع استراتيجية لتحسين أحوال المرأة في موريتانيا!
Nosso desafio é mobilizar as mulheres acerca das causas comuns, porque nenhuma de nós pode ganhar a luta sozinha. A luta é um trabalho de grupo!
Vozes das mulheres é uma plataforma para as mulheres mauritanas, na qual conversamos sobre todas as questões que lhes dizem respeito, e onde trabalhamos juntas sobre uma estratégia para melhorar e fazer avançar suas condições!
Porque a ideia de um coletivo à volta das « vozes das mulheres »?
Frente à falta de lugar disponível para elas no espaço público, várias raparigas envolvidas cada uma na sua área, organizaram-se de maneira informal desde Outubro de 2015 em torno de um objetivo: promover a expressão das mulheres mauritanas. Naquela altura, em 1 de Novembro, aconteceu a primeira sessão de conversa a volta das profissões proibidas às mulheres, e as jovens participantes (mulheres do município de Riyad, nos arredores de Nouakchott) foram então convidadas a expressar o seu « sonho de menina », isto é, o emprego que elas queriam fazer quando eram crianças. E o primeiro emprego que saiu: « pilota de avião »! Longe dos preconceitos sobre a boa esposa, mãe e dona de casa. E os outros que seguiram era do mesmo tipo: « advogada », « médica », « juíza », « parteira », etc.
Sessão « Vozes das mulheres », em 1 de Novembro de 2015 no município de Riyad – Temática: o acesso das mulheres aos empregos.
Desde então, dezenas sessões foram realizados sobre várias temáticas: projeções-debates sobre o assédio sexual nos transportes públicos, conversas sobre assuntos ligados à saúde reprodutiva, trocas sobre a sexualidade no islão (com um imam então convidado), formações curtas sobre a micro-finança, trocas sobre as condições das mulheres em tal ou tal comunidade ou sobre a função social do casamento com uma socióloga mauritana, discussões sobre o lugar das mulheres nas lutas políticas e sociais, sensibilizações sobre um projeto de lei com alvo a criminalização das violências baseadas no gênero, etc. E sessões foram realizadas, em uma certa discrição e em presença exclusiva de mulheres (fora duas ou três exceções, por decisão das organizadores), em vários bairros de Nouakchott bem como em várias cidades do interior, apesar do fato que os grupos lá têm dificuldades a manter-se no longo prazo.
Sessão « Vozes das mulheres » com a socióloga Mariem Mint Baba Ahmed, em 6 de Dezembro de 2015 no município de Tevragh-Zeina (Nouakchott).
O nome do coletivo, enquanto isso, dá o tom. Aliás em francês, é Voix des femmes: usa-se então a palavra voix (« voz » ou « vozes » em português), que é ao mesmo tempo, usado assim sem artigo, no singular e no plural, o que supõe os dois; o coletivo ao mesmo tempo leva a voz das mulheres, e permite a liberação das vozes das mulheres, em espaços de liberdade. « Em Mauritânia, nos diz Dieynaba Ndiom (também membro do coletivo), a voz da mulher só é autorizada quand é na esfera privada. Ou seja, se é uma voz que fala da família, que fala como irmã, que fala como mulher, está bom. Mas esta voz, será um problema logo que será ouvida nas esferas públicas. […] É um problema porque sempre encaminhamos a mulher ao seu papel doméstico e à sua função biológica, ou seja, a maternidade, a incubadora, aquela que educa... uma mãe-mulher! Mas a queremos menos no espaço público. Há assuntos que não abordamos no meio familiar, nem mesmo no meio educativo, à escola. Dai, a ideia de criar quadros de expressão ou espaços de debates como Vozes das mulheres, onde poderíamos falar de tudo, com um grupo formado exclusivamente por mulheres. Já é uma primeira forma de liberar a palavra sobre assuntos supostamente tabus, e é uma maneira também para as mulheres de falar, de dar a sua opinião, sem restrição ». Salka Hmeida, membro do coletivo em Riyad, em Nouakchott, até vai mais longe: « A mulher aqui não tem voz. Ela é sempre dirigida pelos homens. Mesmo em casa, ela não pode dar o ponto de vista dela. E se ela sai, ela deve dizer o que as pessoas esperam dela. Ela não é livre para dizer o que ela sente, o que ela sofre ».
Por trás dessa iniciativa, vários postulados: a necessidade de um trabalho de terreno e de uma abordagem discreta, baseada numa determinada pedagogia; uma lógica de « passo a passo » que reflete em processos de longo prazo, quebrando progressivamente os tabus; a necessidade de criar uma solidariedade e de liberar a palavra em grupos reservados e levados por jovens mulheres. Mekfoule nos explica: « Vozes das mulheres é um espaço público que criamos para as mulheres, que nos dá a ocasião de conversar com as mulheres, sobre as questões das mulheres, para que possamos refletir juntas sobre como encontrar causas comuns. Outra vez, eu estava assistindo um programa sobre Simone de Beauvoir, que explicava como, no começo, ela buscou identificar causas comuns para as mulheres, para elas se agruparem, e finalmente concentrou-se no trabalho doméstico das mulheres. Vozes das mulheres, também, procura causas comuns: por onde vamos começar com as mulheres para ser mais numerosas e constituir uma força social? »
Sessão « Vozes das mulheres » em 19 de Março de 2016 no município de El Mina (Nouakchott) – Temática: o acesso das mulheres aos empregos.
Sessão « Vozes das mulheres » em 20 de Março de 2016 no município de Dar Naim (Nouakchott) – Projeção do curto-metragem « Mulheres de excepção », do jovem realizador mauritano Linc Chevie.
Sessão « Vozes das mulheres » do 23 de Outubro de 2017 no município de El Mina: projeção do film egípcio « As mulheres do ônibus 678 » sobre o assédio sexual nos transportes públicos.
Sobretudo, novidade para um movimento que quer-se profundamente ativista e baseado num envolvimento puramente voluntário: organiza-se sem hierarquia, de forma horizontal, na base de uma ou duas coordenadores por bairro ou por aldeia. Os membros são ativistas no meio associativo ou ativistas feministas, levando sensibilidades diversas e pertencendo a comunidades diferentes do país.
« Testemunha do corpo »: uma performance cênica com objetivo dar voz ao corpo da mulher
Em 2018, uma ONG francesa, CCFD-Terre Solidaire, manifestou interesse em apoiar uma organização mauritana que não se carateriza por uma organização piramidal (como é o caso da grande maioria das associações locais). A ONG deu então ao coletivo Vozes das mulheres uma subvenção modesta que ofereceu a oportunidade de reunir os diferentes grupos dos bairros de Nouakchott a volta de uma atividade comum. Essa atividade, chamada « Testemunha do corpo », realizou-se em 16 de Dezembro de 2018 ao nível do Espaço cultural Diadié Tabara Camara, no bairro Socogim PS em Nouakchott, e reuniu uma centena de pessoas principalmente jovens, homens e mulheres. Essa performance cênica viu uma dúzia de jovens mulheres exprimir-se em nome de diferentes partes do corpo feminino, para tratar dos modos de controle e de dominação que elas sofrem na sociedade mauritano. Salka, que falava em nome da « boca », conta-nos: « Era novo e aberto ao público, que viu uma nova forma de manifestação para as mulheres. O objetivo era mostrar os sofrimentos das mulheres em cada parte do seu corpo. Muitos problemas foram denunciados. Creio que a atividade é bem-sucedida porque muitas pessoas reagiram depois disso, mesmo nas redes sociais, e isso abriu um debate. A ideia é nova ».
As orelhas, a pele, o clitóris, o útero, o cérebro, as mãos da mulher, etc. Em francês, em árabe, e numa menor medida em pulaar, em wolof e em soninké, o exercício pretendia ser exaustivo, a fim de fazer justiça a esse corpo até então sem voz, sem testemunha, e para melhor ser ouvido. « A ideia queria-se original, porque não eram pessoas que falavam mas órgãos, nos diz Dieynaba – que falava naquele dia em nome do « clitoris ». Cada órgão segue uma forma de opressão da sociedade, e naquele dia, era o momento de falar disso. […] O desafio de uma tal atividade é de fazer-se ouvir, de falar em nome de tal ou tal órgão que sofre. Nós temos órgãos que nunca se ouve, como o clitóris. O desafio era de falar em nome do órgão, porque é um pouco estranho de ouvrir um clitóris ou uma orelha falar e vos dizer o que ele sofre ».
Programas-rádio para melhor fazer ouvir as vozes das mulheres no interior
Embora algumas sessões tenham sido realizadas fora de Nouakchott, a capital (que representa um terço da população do país), permanece o fato que falar para as jovens mulheres do interior e dar a elas espaços de expressão continua um desafio. Dieynaba nos conta: « Vozes das mulheres começou aqui em Nouakchott, com seis ou sete municípios de Nouakchott no início, e depois disso cresceu. Pensamos que a iniciativa não devia parar em Nouakchott, porque a necessidade também existe no interior. Os núcleos de Vozes das mulheres foram implementadas ao nível de Kaédi [Região do Gorgol], em Bababé, em Bogué [Região do Brakna], e talvez em breve em Nouadhibou [Dakhlet Nouadhibou]. Os espaços crescem, e não limitam-se só à capital da Mauritânia. Com especificidades nas aldeias e nas cidades: talvez Vozes das mulheres em Bogué, que é num meio mais rural, não precisa procurar espaços públicos onde conversar, mas poderão o fazer numa casa ou ao ar livre. O quadro de expressão pode variar de um lugar para o outro ».
E acrescenta: « O grande desafio, já, é de existir e de manter-se a longo prazo. Porque são movimentos que não são reconhecidos, que podem até ser reprimidos de acordo com suas atividades ou o que eles dizem. Porque somos numa sociedade que não gosta de certas mudanças que ela não sabe abordar. São movimentos que potencialmente podem ser perseguidos. Então o desafio, é de manter-se no tempo. Mas podemos contar com o fato de que não se trata de associações clássicas: é verdadeira militância, por uma causa. Mas o maior desafio, é realmente a perenização, de modo que o movimento ainda existe em vinte ou trinta anos ».
تحتاج النساء إلى قوانين تحميهن من العنف. فيما عدا القوانين ، تحتاج النساء بشكل خاص إلى إطار للحياة المتكافئة بعيدًا عن النظام الأبوي. يجب أن يعترف هذا الإطار بإمكانيات المرأة وحقها في الوجود ككائن كامل. يجب أن تتمتع المرأة بجميع حقوقها وحرياتها الفردية دون تنازل
As mulheres precisam das leis que lhes protegem das violências que elas sofrem. Além das leis, elas sobretudo precisam de um quadro de vida egalitário longe do patriarcalismo, que reconhece os seus potenciais, os seus direitos de existir como ser de pleno direito. Elas devem apreciar a totalidade dos seus direitos e liberdades individuais sem concessão nenhuma.
نحن ، النساء الموريتانيات ، لدينا اختلافاتنا حسب العرق والثقافة... الناس يميزوننا بملابسنا التي هي تعبير عن ما نحن ؛ ولكن مع صوت المرأة ، نحتاج جميعًا إلى القتال والتحدث بصوت واحد لتغيير حقوقنا
Nós, mulheres mauritanas, temos as nossas diferências pela raça, a cultura... Até nos diferenciamos pelo vestuário que finalmente é só um signo externo do que nós somos; mas com Vozes das mulheres, devemos todas lutar e falar de uma só voz para fazer evoluir os nossos direitos.
Nova iniciativa do coletivo para o ano 2019: a criação de um programa-rádio animada por certas das suas membros, e na qual ouvintes em todo o país poderão as contatar, trocar, debater, fazer perguntas em todas as línguas nacionais, sobre temáticas diversas (uns trinta assuntos foram identificados). Esse programa, que deve realizar-se sobre uma trinta semanas, terá como alvo acrescentar vozes ao coletivo e atingir melhor mulheres no interior.
Ao mesmo tempo, manter a atividade de debate constitui um desafio, do qual depende o sucesso de um movimento feminista como Vozes das mulheres. « Uma primeira coisa importante, nos detalhe Mekfoule, é de sempre partilhar uma consciência feminista, de sempre sensibilizar sobre os direitos das mulheres, de lutar. Se conseguimos guardar o mesmo nível de atividade, num certo momento vamos ver que há mais mulheres do que no início, uma base mais larga do que antes. Talvez é um grupo, depois seis ou sete anos, cujo uma dos membros será no Parlamento, porque não? É um grupo que procura lutar de uma outra maneira, mas com mulheres que vivem em condições diferentes, que vêm de toda parte, assim como a sociedade ».
Salka completa: « Nosso desafio, é que a mulher não é livre. Portanto se queres fazer atividades ou debates, é preciso a autorização de um homem nalgum lugar. O problema dos movimentos feministas, é que muitos não têm visão e não são bem organizados. Às vezes, as mulheres casam-se e desaparecem. Para outras, vêem-se proibidas de militar pela família, e ai, acabou. Para umas mulheres, a família ignora o que elas fazem, porque se o aprendem, proibirão-la de sair. Por isso nas manifestações, há mulheres que escondem o seu rosto e não querem aparecer nas fotos ».
جاءت فكرة أصوات النساء كردة فعل على إختطاف صوت المرأة ففي مجتمعنا لا توجد منصات نسائية رغم ما تعانيه المراة من غبن و تهميش .
لقد استطاع اصوات النساء ان يكون منصة تعبر فيها المراة عن مشاكلها و آمالها و طموحاتها ومن مميزاته أيضا انه استهدف فتيات كن خجولات لا يستطعن التعبير بسب العقد التي انشاهم المجتمع عليها و تخلصن من كل ذلك مع الوقت
A ideia de Vozes das mulheres veio em responsa à confiscação que é feita às mulheres da sua própria voz: na nossa sociedade, não há tribuna para as mulheres, apesar do fato que elas sofrem de injustiça e de marginalização.
Vozes das mulheres pode ter constituido uma tribuna através a qual as mulheres podem exprimir os seus problemas, as suas esperanças e as suas aspirações. Mas é bom também de ter como alvo as raparigas tímidas que não podem exprimir-se por causa de décadas que a sociedade forjou ao longo do tempo.
تعامل المرأة بشكل غير عادل ، يجب أن تتغير لتصبح رائدة في المجتمع.
ولكي تتمتع كل امرأة بالحق في التفكير واختيار وتقرر بنفسها.
As mulheres são injustamente tratadas, isso deve mudar para elas poderem optimizar as suas capacidades de pioneiras da sociedade. E para que cada mulher tenha o direito de pensar, escolher e decidir por si mesma.
A necessidade de uma construção paciente para fazer progredir os direitos e liberar a palavra
As dificuldades, as desigualdades, as pressões familiares e sociais, as violências, afetam todas as mulheres mauritanas. É então uma condição coletiva, uma questão social, não problemas isolados. Mas muitas vezes, todos esses problemas pesam sobre cada mulher de maneira individual. Um jovem mulher que quer fazer escolhas de vida que contradizem a prática familiar (escolher um noivo fora da comunidade, por exemplo) vai enfrentar a proibição da sua mãe, as observações dos seus irmãos, o julgamento reprovador dos seus tios e primos, os olhares da vizinhança. Mas sozinha, uma jovem mulher poderá raramente enfrentar ao mesmo tanto a sociedade e a família – ainda mais numa sociedade conservadora marcada pelo peso da religião e da tradição, e onde até a legislação não garante, no dia a dia, a igualdade. As mulheres devem portanto pensar a sua condição sob um prisma coletivo, como um verdadeiro problema de sociedade. A resolver coletivamente.
Permanece que a cultura ativista, uma consciência coletiva feminina, laços de solidariedade entre mulheres, não se decretam. Constroem-se, através de atos simbólicos como de pequenas ações discretas que permitem de propagar lentamente mas certamente mensagens emancipadores. A liberdade é uma grande casa que é preciso cuidar constantemente, passo a passo, para não cair pró chão. Desejamos a esse coletivo como a todos os movimentos feministas sinceros de continuar a inovar e a achar a inspiração para contribuir à liberação construtiva da palavra.
Projeção-debate « Vozes das mulheres » na aldeia de Touldé, perto de Bogué, na Região (Wilaya) do Brakna, em 19 de Setembro de 2018, na temática dos casamentos precoces.