Guerra na Ucrânia (1/2): a necessidade de entender as origens do conflito para acabar com ele
Em 24 de Fevereiro de 2022, a Rússia lançou as suas forças militares numa invasão da Ucrânia, após semanas de tensões e de ameaças. Por trás das posturas de Moscovo, mas também dos países ocidentais, os quais alimentaram a perspetiva de uma aproximação de Kiev com a OTAN e revelam-se desde então incapazes de impor à Rússia um cessar-fogo; por trás dos discursos e da propaganda de guerra, a desinformação e os comentários maniqueístas de uns e outros; e além da própria ofensiva russa (e dos mortos e destruições que ela provoca inevitavelmente), condenável em si; atrás disso tudo, portanto, trata-se de dar um passo atrás e de analisar as grandes questões a cerca do conflito.
Começamos com uns elementos fatuais para situar-nos. A Ucrânia é localizada na Europa de Leste, entre a Rússia, a Bielorrússia no norte, a Polónia, a Hungria, a Eslováquia e a Romênia no Loeste, e o mar Negro no sul. O país é, após a Rússia, o maior do continento, e conta quase 45 milhões de habitantes – 42,1 milhões sem contar a Crimeia, península anexada ilegalmente em 2014 pela Federação russa. A beira do rio Dnieper, o qual separa o país em dois num eixo norte-sul, a capital, Kiev, com os seus 2,9 millions habitantes, é a primeira cidade, a frente de Kharkiv, Dnipro, Odessa e Donetsk, que contam entre 1 e 1,5 milhão de almas cada uma. A Ucrânia tomou a sua independência da União Soviética em desmembramento em 24 de Agosto de 1991. Desde então, o seu coração balançou entre, por um lado, a União Europeia (e mais amplamente o bloco atlantista), e por um outro lado, as estruturas criadas por Moscovo para manter uma esfera de influência no seu antigo império (a Comunidade dos Estados Independentes, em particular).
Após dois mandatos de Leonid Kutchma (1994-2005), o qual ficou muito próximo de Moscovo, a Revolução Laranja permitiu a eleição de Viktor Iushchenko, pró-occidental determinado, à presidência da República, ao custo do candidato apoiado por Kutchma (e por Moscovo), Viktor Ianukovitch, o seu Primeiro ministro. Contudo, após um mandato de cinco anos marcado pelos pequenos cálculos políticos e os fracassos em termos de gestão política e económica, a eleição de 2010 constitui finalmente um falhanço para o campo « laranja »: desacreditado, Viktor Iushchenko é varrido, com apenas 5% dos votos, e a porta-voz da revolução, Iulia Timochenko, chefe do governo em 2005 e entre 2007 e 2010, é vencida no segundo torno, diante de um Viktor Ianukovytch, o qual acede à cabeça do Estado. Após uma década de 2000 caraterizada na região pelas revoluções de veludo « coloridas » (na Sérvia, na Geórgia, na Ucrânia, no Quirguistão, na Moldávia...), e um mandato 2005-2010 virado no Loeste – aliás, Iushchenko afirmava-se favorável à adesão do seu país na OTAN, a pesar de uma opinião público bastante relutante naquela altura –, a Rússia é finalmente tranquilizada pela alternância em 2010.
Situação política entre a Revolução Laranja em 2004 e os eventos praça Maidan em 2014: uma Ucrânia fracturada eleitoralmente, geograficamente e... culturalmente?
O resto, o conhecemos, e é trágico. Tentado um tempo por um Acordo de associação proposto pela União Europeia (primeiro passo na direção de uma adesão a longo prazo), Ianukovytch renuncia em Novembro de 2013, sob a pressão da Rússia (a qual balançou nesta sequência entre ameaças e promessas para atrair a Ucrânia). Kiev anuncia então relançar uma diálogo ativo para chegar a um projeto de integração eurasiano, com Moscovo e outros Estados ex-soviéticos, em particular a Bielorrússia e o Cazaquistão. Esta decisão provoca a revolta da praça Maidan, em Kiev, que conduz à destituição, pelos parlamentares, do chefe du Estadp eù Fevereiro de 2014, e a seguir à invasão e à anexão da Crimeia pela Rússia. A seguir, dois territórios do Leste fazem secessão (com o apoio ativo de Moscovo), ou seja, as autoproclamadas Repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk, no Donbass (uma bacia carbonífera à fronteira com a Rússia, localizada entre o mar de Azov e o rio Don). Em 11 de Maio de 2014, menos de dois meses após uma consultação em Crimeia que aclamou a integração na Rússia, referendos de autodeterminação são organizados no Donbass, validando amplamente, sem surpresa (e sem reconhecimento do resultado pelas autoridades por interim instaladas em Kiev), a independência das duas repúblicas separatistas.
A Primavera de 2014 acaba-se com a eleição à presidência da República de Petro Porochenko, antigo ministro de Iushchenko e depois de Ianukovitch; ele reata com uma postura pró-ocidental. Sob o seu mandato, dois protocolos são assinados em Setembro de 2014 e em Fevereiro de 2015 em Minsk por Kiev, Moscovo e as duas repúblicas secessionistas. Supostos acabar com a guerra no Donbass, nunca foram realmente aplicados. De fato, escaramuças perpetuam-se ao longo dos anos, e os rebeldes apoiados pela Rússia mordiscam ainda terrítorio nos meses que seguem, embora eles nunca conseguem dominar a integralidade das regiões de Donetsk e de Luhansk. Entre 2014 e 2021, o conflito fez umas14 000 vítimas. Tornado impopular diante do marasmo económico do país, Porochenko, o qual passa a frente de Iulia Timochenko com poucos votos no primeiro torno (no entanto ela era dada favorita no início da campanha eleitoral), é finalmente vencidado muito claramente no segundo torno da eleição presidencial, em Abril de 2019, diante de Volodymyr Zelensky. Antigo ator convertido à vida política, ele torna-se, com 41 anos de idade, o mais jovem chefe de Estado da história da Ucrânia. A sua eleição, baseada na promessa de uma luta determinada contra a corrupção, criou muitas esperanças, como o ilustraram o seu resultado impressionante no segundo torno (73,22%) e a maioria absoluta recebida pelo seu partido, Servidor do Povo, nas eleições legislativas antecipadas de Julho de 2019.
Subida das tensões em 2021-2022: que responsabilidades?
No final de 2021 e início de 2022, a subida das tensões é rápida surpreendente. Em 17 de Dezembro de 2021, um ciclo de negociações começa entre a Rússia, os Estados Unidos da América e a OTAN, mas logo no início os Russos chegam com uma lista de exigências, sob a forma de um tratado já finalizado... Entre outros elementos desejados: Moscovo quer retomar as discussões com alvo limitar de parte e outra o arsenal militar convencional (tanques, blindados, aviões...) e as armas nucleares de alcance intermediário; sobretudo, é pedido à Aliança altântica de renunciar a qualquer novo alargamento (em particular destinado à Ucrânia), e à condução de manobras militares ou à instalação de bases, no futuro, « no território da Ucrânia, como em outros Estados da Europa oriental, do Cáucaso do Sul e da Ásia central ». Recuso de Washington, diante do que parece um ultimato, ainda mais porque em paralele, Vladimir Putin ordena o posicionamento – sans précédent – de 100 000 soldados russos às fronteiras ucranianas, na Rússia, na Bielorrússia, e na Crimeia. Último passo antes da guerra: em 21 de Fevereiro de 2022, Moscovo reconhece oficialmente as repúblicas separatistas de Donetsk e de Luhansk. Após uma incursão das forças russas no Donbass, é finalmente uma ofensiva geral, aérea, marítima e terrestra, provocada contra todo o território ucraniano, em 24 de Fevereiro. O exército russo penetra então na Ucrânia por cinco lugares diferentes.
Antes mesmo de evocar os próprios combates, e o que eles nos revelam no plano militar, temos que entender o processo que conduziu a esta invasão, a qual surpreendeu muita gente. Obviamente, a subida das tensões que concluiu-se com a violação da fronteira ucraniana pelo exército russo, vem de longe. Explica-se com a política agressiva dos Estados Unidos da América – e mais amplamente da OTAN, a qual desejava estender-se até os limites da Rússia –, com auge a instalação a partir de 2016 de um grande sistema de defesa antimísseis na Polónia e na Romênia; como também ao recuso categórica da Rússia, nem que seja ao custo do respeito do direito internacional, de ver a sua vizinhança próxima sair da sua área de influência. Desde a chegada de Vladimir Putin, já o analisamos em 2017 (A crise na Ucrânia: o retorno do Império russo?), o poder russo exprimiu a vontade muito clara de restaurar o estatuto de « grande potência », perdeu momentaneamente na década de 1990 no contexto de destabilização da economia nacional, de declínio militar e de instabilidade política. Sem poder pretender a uma hegemonia mundial como foi o caso durante a Guerra Fria, a Rússia de Vladimir Putin jogou sobretudo a carta de um mundo multipolar, onde grandes forças políticas guardariam a sua esfera de influência respetiva e equilibrariam-se umas a outras. Irremediavelmente, isso traduziu-se por uma contestação da ordem unipolar caraterizada desde 1991 pela omnipotência dos Estados Unidos da América, e portanto por um fortalecimento da sua rede de alianças internacional (Beijing, Teerão, Damasco, Caracas...); mas também por uma restauração da autoridade russa no seu « quintal »: Europa oriental, Ásia central, Cáucaso, na perspetiva de inscrever a Rússia numa geopolítica continental, « eurasiática ».
A criação da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, aliança militar que reune muitos Estados ex-soviéticos, foi, em 2002, um primeiro passo neste sentido. O fortalecimento, nos últimos anos, da Organização de Cooperação de Coopération de Shanghai (OCS), criada de maneira formal em Junho de 2001 sobre iniciativa de Beijing e de Moscovo, é um outro: essa estrutura intergovernamental de cooperação política, securitária e económica, a qual regrupa a cerca dos dois gigantes eurasiáticos a maioria dos países da Ásia central (Tajikistão, Uzbequistão, Quirguistão, Cazaquistão) e, desde 2017, a Índia e o Pakistão, tem como objetivo official primeiro assegurar a estabilidade regional. Outra iniciativa indo na mesma direção: a fundação, precedida da criação de uma união aduaneira e de um mercado comum, da União Económica Eurasiática, área de livre comércio que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2015 sobre iniciativa da Rússia, da Bielorrússia, do Cazaquistão e da Arménia; como já o dissemos, a Ucrânia finalmente não aderiu após os eventos da praça de Maidan em 2014.
Outra iniciativa determinante da restauração da potência russa: o fortalecimento e a modernização, há vinte anos, do exército russo. Desde 2015, a sua intervenção na Síria para permitir a Bachar el-Assad de melhorar a sua situação militar sensível, ilustrou uma capacidade de restauração amplamente restaurada. Além disso, em particular desde 2014, os exercícios militares amplos, desmostrações de força com alvo claro os Occidentais, mulciplicaram-se, desde o Cáucaso até o mar Báltico e o Árctico. Um exemplo basta a o ilustrar. Entre o 11 e o 17 de Setembro de 2018, a Rússia, após exercícios importantes no Mediterrâneo uns dias antes, conduziu na Sibéria Oriental e no Extreme Oriente russo as mais amplas manobras militares da sua história, denunciadas pela OTAN como a repetição de um « conflito em grande escala »: quase 300 000 homens foram então mobilizados, ou seja, todas as componentes do exército implicados, e soldados chineses e mongóis em apoio. O exército russo comparou essa desmostração de força a « Zapad-81 » (Loeste-81) o qual, em 1981, tinha mobilizado entre 100 000 e 150 000 soldados do Pacto de Varsóvia na Europa oriental, as mais importantes manobras jamais organizadas durante a era soviética.
Por trás dessas iniciativas, um medo do declínio que nasceu do colapso, rápido e violente, do bloco comunista em 1989-1991. De fato, esta vontade « imperial » acompanha (e os dois fenêmenos provavelmente auto-alimentaram-se) a preocupação de assegurar no longo prazo a segurança do país diante de uma Aliança atlântica cuja expansão até as fronteiras russas é regularmente denunciada por Moscovo, considerada como uma ameaça fundamental para a segurança nacional – segunda a nova doutrina militar russa, adoptada justamente em 2014. Por lembrança, após a adesão da Polónia, da Chéquia e da Hungria em 1999, são sete outros países, entre os quais os três Estados Bálticos (Estónia, Letónia, Lituânia), que aderiram à OTAN em 2004, trazendo os seus limites à fronteira da Rússia. Ainda chegaram na Aliança a Albánia e a Croácia em 2009, o Montenegro em 2017, e a Macedónia do Norte em 2020. Enquanto isso, na cimeira da OTAN do 4 de Abril de 2008 em Bucarest, os países da OTAN validaram o princípio de adesão, no longo prazo, da Ucrânia e da Geórgia, embora a invasão parcial desta última, em Agosto de 2008, e depois a da Ucrânia em Fevereiro e Março de 2014, tinham resfriado os Europeus nesse assunto, em particular os executivos da França e da Alemanha. Em paralele, a redução do território da Iugoslávia (e depois da Sérvia), desde dos conflitos da década de 1990 na Bósnia-Herzegovina e no Kosovo – conflitos nos quais os Ocidentais, em particular a OTAN, assumiram um papel central – foi considerada pelos Russos como uma alerta, para prevenir qualquer intrusão norte-americana que poderia ter por consequência, nem que seja num muito longo prazo, o « desmembramento » do território russo... « Desmembramento » que o desaparecimento da União Soviética e as guerras na Chechénia prefiguravam, de uma certa forma.
O alargamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Situação na véspero do conflito de Fevereiro de 2022.
Nesta perspetiva, entende-se melhor porque Moscovo considerava com receios a proximação da Ucrânia com a Aliança atlântica. Pelo fato da sua situação geográfica, mas também da sua proximidade histórica, cultural, política com a Rússia, a sua integração na OTAN só podia ser inaceitável do ponto de vista do chefe do Kremlin, e isso ainda mais num contexto de democratização (laboriosa) da Ucrânia, ao contrário da evolução autocrática da Rússia de Vladimir Putin. Uma tal evolução teria significado um isolamento crescente para a Federação russa. Certamente, a Ucrânia nunca integrou o âmbito do Plano de ação para a adesão na OTAN; desde Novembro de 2002, ela apenas assinou um Plano de ação individual de parceria, pouco vinculativo. No entanto, em Junho de 2017, o Parlamento ucraniano tinha adoptado uma lei segundo a qual a adesão à Aliança tornava-se um objetivo estratégico da política estrangeira e de segurança do país – a alteração que inscreveu esse objetivo na Constituição entrou en vigor em 2019. A Ucrânia é desde Junho de 2020, com a Austrália, a Finlândia, a Geórgia, a Jordânia e a Suécia, um dos seis Enhanced Opportunities Parteners da OTAN, ou seja, ela faz parte da Iniciativa para a Interoperabilidade com os Parceiros (NATO's Partnership Interoperability Initiative). É equivalente, de fato, em termos de cooperação e de trocas, a uma (quase) adesão na OTAN, com excepção o famoso artigo 5 do Tratado da Atlântico Norte que prevê o envolvimento automático em caso de conflito afetando um aliado. Em Setembro de 2020, finalmente, o presidente Zelensky validou a nova estratégia de segurança nacional do país, a qual prevê o desenvolvimento da Parceria específica OTAN-Ucrânia com alvo uma adesão à organização. Nesse contexto, a Ucrânia já recebia, antes de 2022, armas e treinamentos dos Estados Unidos da América.
Nesta altura do artigo, é preciso lembrar que explicar a lógica geoestratégica de Moscovo, as suas prioridades, e analisar as responsabilidades dos Ocidentais na tensão permanente que caraterizou as relações entre a Rússia e o Ocidente há quinze anos não escusa, de forma nenhuma, o poder russo da sua culpa na invasão da Ucrânia. Tal como após a Segunda Guerra mundial, a culpa do regime hitleriano no desencadeamento do conflito não devia impedir de analisar de maneira crítica a responsabilidade dos Aliados na sua gestão da paz após 1918, caraterizada pela ostracização e a humilhação dos Alemãos. Aliás, como pensar uma paz de longo termo com a Rússia se, do lado ocidental, recusamo-nos a entender o seu ponto de vista e os « pontos duros » da sua diplomacia? Com 2 000 km de fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia, entende-se que a questão do estatuto geopolítico desta última não é anedótica para Moscovo.
Certamente, há um país que pode, em teoria, compreender muito bem o imperativo de segurança da Rússia: os próprios Estados unidos dda América. Quando os Soviéticos, em Outubro de 1962, tentaram instalar misséis nucleares em Cuba, a administração Kennedy lançou em volta um ultimato para Moscovo, mostrando assim que os Estados Unidos estavam prontos a uma guerra total em nome da sua segurança. Para a Rússia, a integração da Ucrânia na OTAN amanhã significa a possibilidade, depois de amanhã, de instalar misséies nucleares norte-americanos dirigidos para a Rússia, e logo então, pelo fato da artigo 5 do tratado do Atlântico Norte estebelecendo uma solidaridade entres membros da Aliança, a impossibilidade para o exército russo de intervir de qualquer forma no território ucraniano. Portanto sim, claramente, a Rússia é culpada desta guerra e leva a responsabilidade de todos os mortos e destruições em consequência. Contudo, isso não impede analissar a subida das tensões que observou-se há vinte anos com discernimento, tomando em conta as condições sine qua non que um país como a Rússia impôs-se para confortar a sua própria segurança. E será que a diplomacia francesa não estabeleceu também « linhas vermelhas » (as quais justificam intervenções militares) na sua própria área de influência, ontem no vale do Reno, no norte da Itália e até além-Pireneus, hoje em dia na Mediterráneo e na África de Loeste? Em nome deste mesmo princípio de segurança nacional (mas com base justificações nem mais discutáveis), os Estados Unidos conduziram duas guerras, no Afeganistão (2001-2021) e no Iraque (2003-2011), com alvo essencial instalar regimes, certamente « democráticos », mas sobretudo « amigos », e que provocaram centenas de milhares de morots. Portanto sim, a Rússia é culpada, mas constata-se que a postura maniqueísta adoptada pelas mídias occidentais não tem equivalência quando os Estados Unidos da América agem da mesma forma, na defesa (puramente e simplesmente) dos seus interesses.
Os Russos também foram ingénuos, pelo menos quando levaram para os negociadores norte-americanos, em Dezembro de 2021, uma proposta de acordo « chave-na-mão », e quando Vladimir Putin multiplicou os encontros o chefe do Estado francês Emmanuel Macron, em Fevereiro de 2022. pois pensar que, de um dia para outro, Americanos e Europeus iriam dizer ao presidente: « Doravante, o teu país será neutro, segundo o desejo da Rússia, era tão absurdo da parte dos Russos como, do lado dos Ocidentais, acreditar que os Russos nunca reagirão ao alargamento iniludível da OTAN, inclusivo num espaço que ela considera como vital para a sua segurança.
Ucrânia e Rússia: uma relação antiga e complexa
Além disso, do lado acodental, sub-estimou-se muito a dimensão emocional a cerca da relação entre a Rússia e a Ucrânia. Americanos e Europeus pensaram que a Ucrânia podia ser tratada como um outro país da Europa central ou oriental. Muitos exageram, após a invasão de Fevereiro de 2022, a ideia que o regime de Vladimir Putin seria obcecado pela ideia que uma democracia, um Estado livre, emerge à fronteira russa – por lembrança, já é o caso, há muito tempo, da Finlândia, e dos Estados Bálticos. A reflexão pode agradar a uns ou outros que querem colorir o seu apoio à Ucrânia com as cores da luta em favor da democracia, mas só corresponde marginalmente à realidade. Pois uma Ucrânia « livre » mas oferecendo a Moscovo todas as garantias de segurança exigida, mantendo também relações privilegiadas com a Rússia, teria provavelmente bastado a Vladimir Putin. A melhora ilustração disso, é que os Russos julgaram que sob a presidência Ianukovytch entre 2010 e 2014, as garantias da sua segurança estavam reunidas.
A administração de Viktor Ianukovytch tinha certamente muitos defeitos (pressões contra a imprensa, contra a oposição política...), no entanto ela representa, após as crises ligadas aos preços e à distribuição de gás natural vindo da Rússia e transitando pela Ucrânia (em particular em 2005-2006, em 2007-2008 e de novo em 2008-2009), um tempo de acalmia nas relações Kiev-Moscovo. O presidente ucraniano deu então à Rússia satisfação sobre três pontos essenciais. 1) Sobre a neutralidade do país, com uma reafirmação da não adesão de Kiev na OTAN. 2) Sobre a base de Sebastopol (Crimeia), cujo arrendamento foi renovado em 2010 e prolongado até 2042 – em troca disso, o governo ucraniano obtem uma diminuição de 30% do preço do gás que lhe é vendido. 3) Sobre a língua russa, pois Ianukovytch garantiu que esta ficaria uma língua oficial do país, e portanto que as pessoas que o querem podessem fazer diligências administrativas em russo. (Aliás, um dos pretextos diretos da tomada da Crimeia pela Rússia foi, em 23 de Fevereiro de 2014, logo no início da queda de Ianukovytch, a decisão absurda e provocadora dos novos dirigentes da Ucrânia de abolir o estatuto do russo como segunda língua oficial nas regiões de Leste.) Essas garantias são vitais do ponto de vista do Kremlin, como o ilustram os muitos livros brancos produzidos nos últimos anos pelo exército russo, as doutrinas de segurança do comando russo, como também as declarações do presidente russo desde a sua chegada no poder há vinte anos.
Em Julho de 2021, num longo texto chamado Sobre a unidade histórica dos Russos e dos Ucranianos, Vladimir Putin defendeu a ideia que os dois países – Rússia e Ucrânia – formam um « um só povo – um tudo ». E a independência da Ucrânia é descrita tanto como uma « tragédia » e como uma injustiça, pois a Rússia foi « de fato sido despojada ». A publicação desse texto em russo, em inglês e em ucraniano, ilustra o fato que o « público alvo » era diverso, ao mesmo tempo o próprio povo russo, as minorias russófocas na vizinhança, e ainda o povo ucraniano, e a comunidade internacional em geral. O seu conteúdo traduz o sentimento de muitos Russos para quem a Ucrânia faz parte da Grande Rússia, e para quem as histórias dos dois países são intimamente ligadas – o que elas são, incontestávelmente. O chefe do Estado russo, que reduziu consideravelmente o seu círculo de conselheiros diretos, fechou-se num prismo de leitura redutor, o qual esquece evoluções contemporâneas da sociedade ucraniana. Com a preocupação de dar uma profundidade histórica à sua presidência, inscrevendo-se na continuidade dos Czares e dos dirigentes soviéticos, Vladimir Putin reciclou uma narração nacional ultrapassada, e esta postura vem misturar-se à sua vontade de combater o declínio suposto do país. Esta visão conforta portanto os paradigmas clássicas da potência, como vem tragicamente o ilustrar a realidade da guerra.
Sem voltar ao primeiro embrião de Estado russo baseado na cidade de Kiev no século X, impõe-se, a este momento da nossa reflexão, um pouco de perspetiva histórica, pelo menos para entender o recuso do poder russo de reconhecer a realidade da nação ucraniana, o seu direito a existir de maneira distinta. Por lembrança, a Ucrânia como Estado livre e independente é uma construção relativamente recente, e de fato, o seu território foi durante muito tempo ume forme de área tampãp, ao mesmo tempo espaço de conflitos e de trocas, à confluência entre muitos « mundos », discutidas entre muitas grandes potências – o que não significa que não nasceu ai uma identidade particular, própria ao clima, à geografia, às culturas dos povos indígenas (fossem eles nómadas ou sedentários). Civilizações do mer Nagro, das estepes asiáticas, dos Balcãs e dos Cárpatos, mas também do Cáucaso vizinho, ou ainda das grandes planícies da Europa central, a Ucrânia foi muito tempo o receptáculo de todas essas influências, e a nação moderna ucraniana é o resultado de todas essas influências.
A partir da Idade Média, a história da Ucrânia e da Rússia entrelaçam-se, misturam-se em todos os planos, político, geoestratégico, cultural, militar, ao custo das influências da Europa central e da mar Negro. Os Cossacos assumem nesse processo histórico um lugar determinante. Por lembrança, certamente eles formam no século XIX uma casta de soldados lavradores limitados em áreas territoriais e geridos com estatutos específicos, impondo obrigações militares permanentes; no entanto antes disso, eram marginais sem ligação, expulsos em zonas frontaleiras do Estado russo pelos progressos da centralização e o escravização gradual do campesinato. O nome, que pronuncia-se e escreve-se agora kazak (de uma palavra turco que inspirou para o nome de uma das repúblicas nascidas do colapso da URSS, o Cazaquistão), aparecido no século XIII nas suas primeiras formas etimológicas, designa um homem livre, vagabundo, aventureiro. Designa antes de tudo cavaleiros de origem turca que percorrem as estepes desde a Ásia central até os Cárpatos, antes de aplicar-se, após o desaparecimento da Horda Dourada e o enfraquecimento dos Canatos tártaros, a todos aqueles que procurarm fazer fortuna em áreas de expansão russa. Cria-se comunidades cossacas ao longo dos conflitos meridionais e orientais do país russo, no curso inferior do Dnieper e do Don, até o piemonte caucasiano e a beira do mar Cáspio, e até na Sibéria, nos limites da China no rio Amor.
Na Ucrânia, os Cossacos avançam com os seus rebanhos de bois e de ovelhas, e fixam-se nessas terras férteis que eles cultivam, sempre prontos a retomar as armas diante dos Turcos e dos Tártaros, que alimentam os mercados de escravos de Constantinopla. Acabam por lançar-se com grande embarcações, em saques nas costas do mar Negro. Permanecem sujeitos nominais do reino de Polónia e do grão-ducado de Lituânia, os quais estenderem-se nos séculos XIV e XV ao custo dos Tártaros. Eles protegem as suas fronteiras meridionais, diante dos Turcos otomanos; esses, na mesma altura, pegam Constantinopla (1453) e os Balcãs antes de impor a sua suserania no Canato tártaro da Crimeia, resíduo da Horda Dourada. No final do século XVI, os reis da Polónia tentam transformar esses Cossacos sedentarizados, proprietórios e cultivadores, num exército regular: são registrados num registro, por regimentos e por centúrias, recebem um soldo, e são postos sob a autoridade de um comandante em chefe (ou Hetman). Mas na mesma altura, a evolução das relações políticas e religiosas vai concentrar as passões: após a União de Lublin, que reune em 1569 o grão-ducado da Lituânia (população maioritariamente russa e de obedência ortodoxa) e a Polónia, e estimula a influência dessa última sobre a nobreza russa região, em 1596, no concílio de Brest-Litovsk, uma parte do clero ortodoxo, para beneficiar dos mesmos direitos que os católicos, separa-se do partriarca de Moscovo e, embora conserva o rito oriental, submete-se à autoridade do papa. Contudo, muitos fieis e o baixo clero rejeitam a união das Igrejas, símbolo da supremacia da Polónia numa região que a coroa polonesa considera como uma terra de colonização – ela distribui então imensas terras aos nobres poloneses, despojando e reduzindo assim à servidão de muitos camponeses ucranianos. A resistência national e religiosa é portanto acompanhada de um conflito social.
Resistência nacional, pois além do Dnieper, os Cossacos zaporogues (« além das quedas ») recusam a dupla dominação polonesa e papal. Eles continuem a formar comunidades livres, vivendo da caça, da pesca, mas também de banditismo. Eles escolhem os seus chefes, ou atamãs, e constituem uma forma de república militar, a Setch, instalada nas baixas terras próximas do mar Negro, lar da insurreção. Muitos camponeses ameaçados de expropriação refugiam-se lá. Entre 1625 e 1638, a Ucrânia é devastada por inúmeros combates sangrantes, onde revoltas e repressões multiplicam-se inexoravelmente. Em 1648, a guerrilha do hetman (comandante militar em chefe) Bogdan Khmelnitski permite-lhe estender a sua dominação em todo o território ucraniano, falar de igual para igual com o rei da Polónia, o khan da Crimeia, o czar de Moscovo. Em 1654, ele é que assina o tratado de Pereiaslav, o qual põe a margem esquerda do Dnieper, com Kiev e uma pequena parte da margem direita, sob dominação russa – é em memória deste tratado, e para o seu três-centenário, que Nikita Khrushtchev « ofereceu » a Crimeia à Ucrânia, em 1954.
Ironia da História? Os povos da Ucrânia lutaram contra a dominação da Polónia católica, que transmite as influências ocidentais em direção da Rússia, com auge o recuso da união das Igrejas em 1596. A construção da Ucrânia moderna fez-se (entre outras coisas) nesta base: a rejeição da figura papal, da suserania polonesa, e a aproximação com a Igreja russa. Contudo, é a ruptura com a esfera de civilização eslava e oriental que simboliza, hoje em dia, para a Ucrânia, a independência e uma verdadeira soberania. Por lembrança, muito simbolicamente, a Igreja ortodoxa da Ucrânia proclamou o seu destacamento da Igreja russa em 2018. A sua autocefalia foi reconhecida em 2019 pelo patriarcado ecuménico de Constantinopla e o patriarcado ortodoxo de Alexandria; sem surpresa, esta decisão provocou um cisma com o patriarcado de Moscovo, e muitas outras Igrejas ortodoxas abstiveram-se de reconhecer essa nova Igreja autocéfala.
Os Cossacos zaporogues escrevendo uma carta para o sultão de Turquia, pintura realizada entre 1880 e 1891 pelo artista ucraniano Ilia Répine (1844-1930).
Portanto, no meio do século XVII, o que, ao ver o mapa, constitui a Ucrânia moderna, já está submetida a influências diversas, as quais prefiguram de uma certa maneira a situação atual: os territórios no Loeste do rio Dnieper pertecem à República das Duas Nações (com um rei « eleito »), unindo a Lituânia e a Polónia (católicas); a parte oriental é sob dominação da Rússia czarista (ortodoxa) desde 1654. No século XVIII, com as partilhas sucessivas da Polónia pela Rússia, a Prussa e a Áustria, a totalidade da Ucrânia que encontra-se reunida ao Império russo. No final do século, o hetmanat é abolido (1764), os Cossacos integrados ao exército regular, a sua elite assimilada à nobreza russa. A Stech dos Zaporogues, a qual continue tão rebelde como antes, é destruida uma primeira vez por Pedro o Grande em 1709, e definitivamente dissolvida em 1775 por Catarina II. Podemos no entanto notar que a sua lembrança permanece viva na Ucrânia moderna. Os seus feitos são cantados nas dumy, aquelas longas canções épicas que transmetem-se oralmente geração por geração, e que idosos cegos, os Kobzars, cantam com uma bandoura (ou kobza, tipo de guitarra) nas feiras da região, presentes na Ucrânia pelo menos até o século XIX. Como o lembrou (quando ainda era vivo) Michel Aucouturier, eminente perito do mundo eslávio (e russo em particular), no seu prefácio à obra de Nicolas Gogol Tarass Bulba (redigido em 1991 e do qual é amplamente inspirado essa passagem do nosso artigo), as crônicas polonesas e cossacas dos séculos XVII e XVIII permitirem guardar as peripécias das dumy, e registros históricos e canções populares, são, desde o início do século XIX, recolhidas pelos letrados de Ucrânia, os quais redescobriram assim o passado glorioso do seu país. Aliás, Gogol é um desses.
No século XIX justamente, o sentimento anti-polonês fortalece-se na opinião russa, após a insurreção polonesa de 1830: tem uma inflexão fortamente ucraniana, ou melhor, cossaca, porque guarda a memória da antiga rivalidade, política mas também religiosa, entre os Estados russos e polonês, para a possessão das terras da Bielorrússia e da Ucrânia. Como o escreveu ainda Michel Aucouturier, ainda não se trata de nacionalismo ucraniano: « no melhor dos casos pode-se talvez falar de um certo particularismo, ligado às lembranças de uma autonomia ainda recente e de um passado glorioso ». Os Cossacos revoltados contra a Polónia aparecem em nome da ortodoxia como os campiões os mais autênticos da causa russa, do Oriente detentor da verdadeira fé contra o Ocidente submetido à autoridade papal. « O patriotismo ucraniano ainda é apenas uma variante "régionale" do patriotismo russo, acrescenta ele. Mas lhe dá uma coloração particular, cujo "mito cossaco" [...] est l'illustration. »
Portanto entendemos que, a partir du século XVIII, o « rolo compressor russo » é lançado: o Canato da Crimeia, povoado de Tártaros, é conquistado em 1783, e a margem oeste do Dnieper em 1795, no âmbito da terceira partilha da Polónia. Podemos notar que o extreme Oeste da Ucrânia (Volínia, Galícia oriental) permanece então autríaca, e depois austro-húngara, até 1918, antes de tornar-se polonesa até 1939; é anexado pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra mundial. Hoje em dia, é o coração batante do nacionalismo ucraniano, porém só foi integrado à Ucrânia soviética em... 1945!
Após uma breve tentativa de independência em 1918-1920, a seguir a Revolução russa de 1917, a Ucrânia foi obrigada a juntar-se à União Soviética nascente depois de muitos anos de desordem particularmente violentes, marcados pela ação de bandas armas, combates entre Russos brancos e Russos vermelhos, e a retomada do território pelo exército bolchévico. A década de 1920 foi caraterizada pela coletivização (forçada) das terras, que alimentou a resistência do campesinato, e por trás uma subida do nacionalismo. Após uma primeira fome em 1922, a grande fome orquestrada pelas autoridades soviéticas em 1932-1933 (conhecida pela palavra Holodomor), quebra definitivamente a resistência ucraniana, ao preço da confiscação de comida e de uma repressão terrível. Balanço: entre seis e oito milhões de mortos. Sem esquecer as grandes purgas estalinistas de 1937-1938, que afetaram pelo menos 270 000 Ucranianos, matados para uma metade deles, os outros sendo enviados no Gulag. Vieram ainda acrescentar-se oito milhões de mortos ucranianos na Segunda Guerra mundial, durante a qual o país é ocupado pelas forças do Eixo. O território ucraniano já constitui, naquela altura, uma questão capital, pois representa um quarto da produção agrícola soviética, e as minas de ferro de Kryvyi Rih (no sul) e de carvão (no Leste) alimentam em aço o complexo militaro-industrial da URSS.
Fora dessa sequência dramática de 1917-1945, os laços sempre foram muito fortes entre os dois povos. O país deu um dirigente à URSS na pessoa de Leonid Brejnev, e a maioria dos secretários gerais do PC soviético, inclusivo Mikhail Gorbatchev, tinham membros da sua família próxima com origem ou morando na Ucrânia. O território ucraniano foi, e era relevante, qualificado de « celeiro » da URSS, graças às suas ricas « terras escuras », e foi a primeira região industrial da União Soviética, com o carvão do Donbass.
Para Vladimir Putin, a Ucrânia, mas também a Bielorrússia, nunca deveriam ter tomado a sua independência. Aliás, ela só foi possível a favor de tratações políticas surgidas no momento da queda da União Soviética. De fato, o acordo que o tornou-se possível foi assinado, em 8 de Dezembro de 1991, por Leonid Kravtchuk, Boris Eltsine, e Stanislaw Chushkievitch, dirigentes respetivos da Ucrânia, da Rússia e da Bielorrússia, os quais validaram naquele dia o deslocamento da URSS e criaram a Comunidade dos Estados Independentes (CEI). Problema, na mente de Eltsine, este acordo tinha como alvo, não tanto separar essas três repúblicas eslávas, mais desembaraçar-se de Mikhail Gorbatchev, então presidente da Unão Soviética, consideravelmente enfraquecido após o golpe fracassado do 8 de Agosto de 1991. Enquanto isso, em 1 de Dezembro de 1991, os Ucranianos aprovaram a sua independência, por 92% dos votos (84% de participação).
O mapa dos gazodutos transitando pela Ucrânia desde a Rússia ilustra os desafios geopolíticos que escondem-se por trás da questão energética. A Crimeira representava, já nas presidências de Iushchenko (2005-2010) e Ianukovytch (2010-2014), uma outra questão importante, pois uma maioria de Russos permanece lá, e Moscovo mantinha lá uma basa militar onde estacionava a frota russa.
Nesse primeiro capítulo, temos tentado por em perspectiva a história da Ucrânia no seu ambiente regional – na situação particular no cruzamento dos conjuntos culturais católico da Europa central, ortódoxo da Europa oriental, e mediterráneo –, após ter lembrado o peso das dissensões políticas e dos debates identitários surgidas desde a Revolução Laranja de 2004. Este passo atrás parece indispensável para analisar um conflito que não resume-se a uma visão maniqueísta e redutora das relações entre os atores em jogo. Do ponto de vista da Rússia, a Ucrânia faz parte integrante da sua « vizinhaça próxima », da sua esfera de influência (e de dominação) histórica. Ela é essencial à sua segurança, a representa a sua fronteira « natural » – aliás, a palavra Ucrânia significa « marcha », « fronteira », designa de uma certa maneira a linha da frente. E se a história (a moderne e a mais antiga) não justifica, de uma qualquer maneira, o recuso de Vladimir Putin de ver a Ucrânia emancipar-se geopoliticamente (o que, em teoria, é o estrito direito do povo ucraniano, livre e soberano), somos obrigados a tomar conta do ponto de vista de Moscovo, pelo próprio fato da invasão russa e da pela impossibilidade de acabar com o conflito com a única força das armas. A segunda parte desse artigo será consagrada aos ensinos (diversos) de guerra desde dos seus inícios, e às soluções que esboçam-se, bem laboriosamente, para acabar com ela: Guerra na Ucrânia (2/2): que lições geopolíticas e militares podem ser tiradas do conflito?